Publicado 27 de abril de 2024 09:42. última modificação 27 de abril de 2024 14:05.

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Sair ‘do mais do mesmo’ – como fazer da economia criativa um eixo de combate aos desafios promovendo qualidade de vida aos moradores dos territórios

Criatividade envolve inovação, conexões e cultura, com incentivo da autoestima, essência e valores das pessoas e lugares

Com a globalização, tornando cada vez mais parecidos produtos, serviços e propostas, a criatividade surge para fazer a diferença, tornando-se um eixo de combate aos desafios ao promover bem-estar e qualidade de vida, principalmente aos moradores dos territórios, não só aos turistas. Os ingredientes para a formação de uma cidade criativa envolve inovação, conexão e cultura, tendo como pano de fundo a autoestima das pessoas e a essência dos lugares.

Os ensinamentos são da profissional de referência mundial em Economia Criativa, Ana Carla Fonseca Reis, que falou sobre ‘Cidades Criativas e Desenvolvimento Regional’, na quarta aula do curso de formação política do PSB, ‘Criatividade: Marcas e Marketing do PSB/Eleições 2024 – Comunicação, Conteúdo e Práticas’, nesta quinta-feira (25), via You Tube e Zoom.

Autora da primeira tese sobre cidades criativas no Brasil, Ana Carla é administradora pública, economista, mestre em Administração e doutora em Urbanismo. Ela teve passagens por diversos países e, desde 2003, integra a empresa ‘Garimpo de Soluções’, pioneira em economia criativa e territórios, empreendedorismo, negócios e desenvolvimento.

Eixo Inovação – Ana Carla frisou que inovação não se refere apenas à tecnológica, mas à social, que permite reinvenções. “A criatividade é o antídoto ao mais do mesmo, de transformação do contexto, de enxergar o que está, mas não se dá a ver, de empreender por caminhos inusitados.” A especialista destacou o papel da governança efetiva, que inclui a iniciativa privada, o poder público e a sociedade civil. “Não importa quem solta a primeiro faísca, importante é contagiar os outros atores.”

Ela disse que podemos nos inspirar em iniciativas de outros países, interpretando os processos para o sucesso, e fazendo adequações à nossa realidade. China, Holanda, Indonésia souberam encontrar soluções para problemas, transformando desafios em oportunidades.

No caso da Indonésia, com questões religiosas, étnicas, a dispersão em várias ilhas, fez planejamento para 10, 20 e 30 anos e tornou-se um dos polos mundiais de criatividade, usando sua sabedoria milenar. “Como aproveitar a moda da Indonésia e do Brasil usando materiais orgânicos, como fibras do coco e do abacaxi?” E destacou que a primeira resolução criativa em todos os segmentos da ONU foi tomada no ano passado, liderada pela Indonésia.

Já Medellín, na Colômbia, que já foi a mais violenta do mundo, detectou grandes ‘panelas de pressão’ e reconheceu que o pobre tem direito ao belo, ao entretenimento e criou ‘ambientes de fricção’, em que jovens privilegiados, que estudavam em escolas privadas, pudessem encontrar o mais necessitado, furando bolhas.

“Transformaram um lixão em um centro cultural, deram casas mais dignas para os moradores do entorno, com plantio de flores e legumes pela comunidade”, contou Ana Carla.

Sendo a cidade um lugar montanhoso, muito íngreme, um dos bairros menos amistosos ganhou uma escada rolante para transportar os moradores, assim como teleférico.

Já em Bogotá, capital da Colômbia, adotaram o sistema distrital de cuidado, especialmente voltado a mulheres, que geralmente cuidam de familiares. “A ‘geração sanduíche’ inclui principalmente mulheres, de 40 a 60 anos, que cuidam dos menores e dos mais velhos da família, só não cuidam de si.” Para elas, foram criados cursos gratuitos de orientação psicojurídica, ações de saúde, atividade física, entre outras iniciativas.

“É preciso beber de fontes diferentes, percorrer áreas do saber diversas.”

Ana Carla citou, ainda, o Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo, região fascinante, de grande qualidade de vida, mas isolada e esquecida, sem indústria e baixa renda, que teve a aplicação do plano ‘Dá gosto de ser do Ribeira’, parceria do Sebrae com um consórcio intermunicipal. Foi observado que a população era formada de muitos evangélicos, porém não havia uma marca de moda que atendesse esse público.

“Criatividade tem a ver com a autoestima das pessoas, o sentimento de pertencimento, a crença de que vão vencer”, afirmou a especialista, ressaltando que a criatividade é transversal, não repousa sobre uma área apenas.

Eixo Conexões- Para mostrar a importância das conexões, a ação destacada ocorreu no Vale do Paraíba, onde foram mapeados 103 empreendimentos nas cidades, que ofereciam atividades para turistas, que antes passavam pela região e não sabiam onde ir e o que fazer. Um site com georreferenciamento agregou estes pontos, alavancando o desenvolvimento do Vale.

Com base no site, foi criado um jogo de cartas para alunos do 3⁰ ao 9⁰ ano de escolas públicas, sendo cada carta um empreendimento.

Eixo Cultura- Em relação à cultura, Ana Carla declarou que todo lugar tem sua essência, um espírito. “É uma questão mais identitária da atmosfera, que envolve arquitetura, moda, design, artesanato. A a cultura tem grande impacto econômico.”

Ela ilustrou com a produção audiovisual, em que 80% do orçamento é gasto com tecnologia da informação, móveis, logística, alimentação, transporte.

“Ao privilegiar os pequenos empreendedores locais, movimentando a economia e não demandando deslocamento de transporte, você consegue diminuir o dano ambiental, por exemplo.”

Reconhecimento – A criatividade para gerar produtos, propostas, serviços por vezes tem um preço não correspondente, aquém do merecido.

Segundo Ana Carla, se é explicado o conceito, como foi feito, o consumidor entra na história e entende o valor. “Posso não ter cacife para comprar, mas reconheço o valor pedido pela inovação, é o valor agregado. Justa remuneração é ganhar proporcional ao que cada um trouxe deste valor agregado ao produto.

Por isso, além do valor agregado, é preciso ter o valor compartilhado. “Alguns compram por um preço baixo de quem fez, e vendem por dez vezes mais em outra cidade.”

Ela informou que a ‘Catarina Mina’, que fabrica acessórios, roupas, bolsas, é a primeira marca a abrir os custos. Quando se clica na peça, pode-se saber todos os gastos, quanto os profissionais ganham.

“Em impostos, maquininha do cartão não dá para mexer para pechinchar. Acaba-se querendo redução no trabalho criativo e percebe-se que isso não é justo”.

Desigualdades sociais – Respondendo a dúvidas dos participantes, Ana Carla explicou como utilizar a economia criativa para redução das desigualdades sociais. “O que temos naquele território? Temos que mapear e organizar isso.” E citou a Mostra Gastronômica das Favelas, em Belo Horizonte (MG), que, em banquinhas, os moradores oferecem delícias nutritivas, não servidas em restaurantes tradicionais.

Já quanto a envolver todos os entes – privado, público e sociedade civil – ela acredita que o início de uma gestão é momento oportuno para motivar a participação. “O exemplo arrasta. Vindo os primeiros interessados, outros virão.”

Quanto ao uso da tecnologia para alavancar a economia criativa, Ana Carla disse que as pessoas precisam ter acesso à informação, processá-la e ter liberdade para escolher. “Desenvolvimento é liberdade de escolha”.

Outra questão foi sobre quebrar o paradigma de que obras visíveis são melhores que as que projetam o futuro. “Entregas muito distantes, as pessoas esquecem, e as muito rápidas, as pessoas já nem percebem. É preciso saber ‘fasear’ as obras, para sentirem o ritmo das coisas, além de divulgá-las.

PÚBLICO – A aula desta quinta-feira (18), com 170 participantes de A a Z do Brasil, teve mediação da coordenadora de Comunicação da FJM, Luciana Capiberibe, e considerações do secretário de Formação do PSB, Domingos Leonelli.

Iniciativa conjunta do PSB com a Fundação João Mangabeira (FJM), a formação aborda diversas temáticas da comunicação, além de conteúdos programáticos, que deverão ser instrumentais para a campanha municipal de 2024. É promovida para candidatos (as), assessores políticos, equipes e membros de pré-campanhas de futuros candidatos (as) socialistas aos cargos de vereador(a), prefeito(a) e vice-prefeito(a) em todo o Brasil.

PRÓXIMA AULA SERÁ SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ELEIÇÕES 2024 – Um tema atualíssimo vai ser o foco da próxima aula, no dia 2 de maio: Inteligência Artificial e Eleições 2024, com o professor do Departamento de Comunicação, na Universidade Federal do Espírito Santo, desde 2005, Fábio Mailini. Coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cultura (LABIC/UFES), ele desenvolve pesquisas sobre ciência de dados, movimentos sociais e redes sociais (com especialidade em coleta, processamento e visualização de big data).

No total, o curso abrange sete exposições de uma hora e meia cada, com meia hora para debate, realizadas por especialistas nas áreas abordadas. As transmissões, com duração total de 2 horas – 1h30 horas para o/a palestrante e meia hora para debate – serão feitas sempre às quintas-feiras, às 19h, até 23 de maio.

Cada especialista enviará um texto de quatro páginas sobre o tema abordado para que seja feita uma publicação como resultado da formação para publicação de um caderno pelo PSB e pela FJM, conjuntamente.

Confira as próximas aulas:

09/05 (quinta-feira), 19h – Construindo o Marketing para engajamento nas redes sociais

  • Sergio Denicoli – O sentimento das redes, estratégias e ações para 2024 – Formado em jornalismo e em publicidade. Pós-doutor em Comunicação, pesquisador da Universidade do Minho, em Portugal, CEO da AP Exata inteligência em Comunicação Digital e colunista do Estadão.

16/05 – Informações para internet – textos e estratégias para portais

  • Luciana Panke – Professora do Departamento de Comunicação e da Pós-Graduação em Comunicação da UFPR, foi reconhecida como uma das 12 mulheres mais influentes da comunicação política da América Latina pelo Victory Awards 2016.

23/05 (quinta-feira), 19h – Diversidade: o bônus eleitoral de pertencer a movimentos populares e defender causas identitárias
Renato Meirelles – Presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva. Foi fundador e presidente do Data Favela e do Data Popular, conduzindo diversos estudos sobre o comportamento do consumidor emergente brasileiro. Considerado um dos maiores especialistas em consumo e opinião pública do país, é autor do livro ‘Um País chamado Favela’, em parceria com Celso Athayde. Renato Meirelles é palestrante e colunista.

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