Inteligência Artificial nas eleições para inspirar-se, reduzir custos e ficar longe dos riscos

Melhor uso da ferramenta foi apresentado pelo especialista Fábio Malini

O impacto da Inteligência Artificial (IA) na sociedade, em especial na comunicação política, com benefícios e perigos para uso nas eleições foi a tônica da quinta aula do curso de formação política do PSB, ‘Criatividade: Marcas e Marketing do PSB/Eleições 2024 – Comunicação, Conteúdo e Práticas’, nesta quinta-feira (2), via YouTube e Zoom.

Denominada ‘Inteligência Artificial e Eleições 2024’, a abordagem foi feita por Fábio Malini, professor do Departamento de Comunicação, na Universidade Federal do Espírito Santo, desde 2005, e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cultura (LABIC/UFES).

Como realizador de pesquisas sobre ciência de dados, movimentos sociais e redes sociais, especializado em coleta, processamento e visualização de big data, Malini trouxe sua experiência aos participantes de forma didática e recheada de exemplos.

Ele lembrou que a comunicação política vem mudando ao longo do tempo. Malini disse que cada década tem suas ferramentas novas – rádio, TV, primeira fase da internet, e todas causaram Impacto na sociedade, na comunicação política, nas escutas políticas. Com o surgimento da Inteligência Artificial (IA), destacou ser preciso analisar boas e más práticas para que o seu uso auxilie e inspire os pré-candidatos e depois candidatos, reduzindo custos e longe dos riscos. Afinal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estabelece um regramento mínimo para uso da IA durante o processo eleitoral.

O Papa é POP – Um conteúdo gerado por IA pode se tornar viral? “Pode trazer votos ou rejeição para a candidatura. A ideia é obter mais visualizações, encaminhamentos, compartilhamentos. Quem é candidato quer chegar aos públicos mais distintos possíveis (majoritária – Executivo) ou bem definidos (proporcionais – Legislativo).”

Ele citou como exemplo o caso emblemático ‘drip do Papa’, que a Folha de S. Paulo, em 25 de março de 2023, avaliou a imagem do papa Francisco de look estiloso, com casacão branco, que havia viralizado. Muitos pensaram ser real, no entanto era montagem, feita com o ‘Midjourney’, um aplicativo que cria imagens com IA.

Malini afirmou que parte do jornalismo checou, mas nas redes sociais não foi desta maneira. Passa a viralizar como verdadeira, dizendo que Francisco contratou um estilista. Quando surge, entra pro ecossistema do ‘fofocariado’ – rede de contas, tipo ‘Choquei’, que replica o mundo das celebridades, sendo a velocidade maior porque tem, às vezes, 10 milhões ou mais de seguidores. A disseminação foi tão intensa, que ocorreu a saturação da imagem.

O especialista contou que, entre a forte viralização e a imprensa ter checado, a revista Vogue, a mais importante da moda, publica a informação como verdadeira e que o estilista seria Fillippo Soncinelli. “A Globo.com leva isso para a capa, dando verniz de verdade. Vinte e quatro horas depois, a revista se retrata e admite que foi um erro.” Ele ressaltou que Pablo Xavier foi o responsável por recriar a imagem do papa mais ‘happer’, tendo objetivo mais lúdico, voltado a uma camada mais restrita de artistas, ou seja, bem diferente do que houve. O próprio Pablo declarou que não esperava tal resultado.

Malini explicou que a imagem foi possível com uso da IA generativa, um conjunto de tecnologias que conseguem criar imagens, textos, áudios e vídeos, a partir de uma base de dados e de configurações estabelecidas por um usuário, no caso, Pablo Xavier. “Se alguém requisita os primeiros posts dos candidatos a vereador no Brasil, a base de dados será ativada e já tem padrões.”

Ele observou que o lançamento de uma candidatura é uma situação padrão, podendo ser requisitada para ser produzido card ou texto. Mas alerta que qualquer que seja o teor solicitado, sempre deve haver supervisão humana para verificação de erros, distorções e inverdades.

Aplicação em áudio – Malini explicou que na pré-campanha podem ser gravados textos com tons diversos e boa dicção para formar um acervo vocal que permita remixibilidades. “Com a correria da campanha pode ser útil.”

Ele informou que há vozes de celebridades, como de Lula, Bolsonaro e do seo Madruga, bem como vozes comercializadas da comunidade. “Em vez de contratar um locutor, pode solicitar uma voz de homem de 40 anos ou de mulher de 18, conforme a necessidade. Isso diminui os gastos.”

E ainda frisou que aí entra a criatividade, inventividade da equipe. No entanto, alertou para ter cuidado com a Justiça Eleitoral.

Ele relatou o caso de um candidato a prefeito do Paraná que foi vítima de fake news por parte do opositor, divulgando com sua voz um áudio dizendo que não seria mais candidato. Não conseguindo desmentir, tal a rapidez da disseminação, entrou com uma ação, mas o juiz disse que não era possível identificar de onde partiu nem quem fez circular em função da criptografia de ponta a ponta.

Aplicação em vídeo – Já a criação de um vídeo pode ser a partir de um texto (prompt); de imagem estática; animar e editar um vídeo criado. “Quanto mais específico o pedido, mais contexto, melhor a entrega.”

Deu exemplo de requisitar imagem de discurso no Parlamento. “Apareceu um homem no Parlamento inglês. Não solicitei homem e o Parlamento que surgiu foi o inglês. É o padrão, não especifiquei.”

Porém, avisou que saber inglês é importante, uma vez que as ferramentas não têm perfeito entendimento do português, podendo gerar confusão.

Aplicação em texto – O polêmico ChatGPT, que pode gerar textos e imagens, também foi tema da aula. “No caso de não entender o comando solicitado pelo usuário, a ferramenta conversa com você. Por isso se chama chat.”

Péssimos usos- Fábio Malini elencou casos de péssimo uso da IA, como o de Anthony Furey, do Partido Republicano Canadense, nas eleições municipais de Toronto. Ele publicou uma imagem sua com uma moça com feições latinas, cabelos encaracolados e… três braços, o que causou um misto de ridicularização com exposição de conteúdo fake. A partir daí, suas postagens anteriores foram analisadas e percebeu-se que, numa, ele mostrou falsamente lugares cheios de pessoas em situação de rua, alegando que se eleito prefeito, isso acabaria.

Trump, que fez farta utilização de fake news, também foi citado, agora sendo alvo do mesmo mal. Javier Milei e Sérgio Massa igualmente usaram IA de modo reprovável.

Malini advertiu para o viés ideológico e a base de dados históricos públicos, que trazem preconceitos e atitudes condenáveis na política.

Reforçou a falta de originalidade da IA. “Serve para auxiliar, inspirar ideias, mas a criatividade é do ser humano.”

E orientou sobre a proibição de anúncios políticos impulsionados por parte do Google por ser difícil identificar a autoria, evitando a responsabilização dos provedores. “Isso deve direcionar investimentos para o Meta, via Instagram e Facebook.”

A aula gerou grande interesse entre os participantes de todo o Brasil, com destaque para a deputada estadual do PSB pela Bahia, Fabíola Mansur.

Entre as dúvidas, se o ChaGPT identifica o texto feito pela ferramenta. “Pode, sim, e, às vezes, não é”, narrando o caso de um aluno que teve que refazer um trabalho porque a professora verificou no Chat GPT que era oriundo da ferramenta, e não era. “Vejam a confusão. Isso ocorreu porque a ferramenta se vale da base de dados, com conteúdos similares de trabalhos acadêmicos.”

A aula teve a mediação da coordenadora de Comunicação da FJM, Luciana Capiberibe, e as considerações de Domingos Leonelli, secretário de Formação do PSB.

PRÓXIMA AULA: ‘CONSTRUINDO O MARKETING PARA ENGAJAMENTO NAS REDES SOCIAIS’- Formado em jornalismo e em publicidade, Sergio Denicoli vai nos transmitir, na próxima aula, qual o sentimento das redes, estratégias e ações para 2024. Pós-doutor em Comunicação, pesquisador da Universidade do Minho, em Portugal, ele é CEO da AP Exata inteligência em Comunicação Digital e colunista do Estadão.

No total, o curso abrange oito exposições de uma hora e meia cada, com meia hora para debate, realizadas por especialistas nas áreas abordadas. As transmissões, com duração total de 2 horas – 1h30 horas para o/a palestrante e meia hora para debate – serão feitas sempre às quintas-feiras, às 19h, até 23 de maio.

Cada especialista enviará um texto de quatro páginas sobre o tema abordado para que seja feita uma publicação como resultado da formação para publicação de um caderno pelo PSB e pela FJM, conjuntamente.

CONFIRA AS PRÓXIMAS AULAS:

16/05 – Informações para internet – textos e estratégias para portais

• Luciana Panke – Professora do Departamento de Comunicação e da Pós-Graduação em Comunicação da UFPR, foi reconhecida como uma das 12 mulheres mais influentes da comunicação política da América Latina pelo Victory Awards 2016.

23/05 (quinta-feira), 19h – Diversidade: o bônus eleitoral de pertencer a movimentos populares e defender causas identitárias
Renato Meirelles – Presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva. Foi fundador e presidente do Data Favela e do Data Popular, conduzindo diversos estudos sobre o comportamento do consumidor emergente brasileiro. Considerado um dos maiores especialistas em consumo e opinião pública do país, é autor do livro ‘Um País chamado Favela’, em parceria com Celso Athayde. Renato Meirelles é palestrante e colunista.