Publicado 18 de novembro de 2021 11:36. última modificação 23 de novembro de 2021 14:47.

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Cultura periférica x violência policial foi o tema do último debate sobre segurança pública realizado pela Negritude Socialista Brasileira de São Paulo

Live debateu o contexto histórico de perseguição e tentativas de frear qualquer manifestação cultural negra após a abolição e como isso continua reverberando nos dias atuais

O último debate da série sobre o Mapa da Violência, que discute a segurança pública contra negros, realizada pela Negritude Socialista Brasileira-SP (NSB-SP), em 17 de novembro, reuniu personalidades para discutir não só a violência policial, mas também o preconceito contra as manifestações culturais nas periferias, muitas vezes reprimidas com truculência.

Participaram do debate, Tamires Sampaio, secretária-adjunta de Segurança Cidadã de Diadema e diretora do Instituto Lula; Jesus dos Santos, codeputado da mandata coletiva de São Paulo; Bruno Ramos, articulador nacional do Movimento Funk e colunista do Mídia Ninja, e Anderson John, presidente do Movimento Atitude, com mediação de Arlindo Felipe Jr., Secretário Geral da NSB-SP.

O codeputado Jesus dos Santos abriu o debate falando sobre a visão de uma polícia cidadã que de fato esteja a serviço da população, que cabe, tão somente, nos países europeus, porque quando olhamos a instituição polícia militar no nosso país é preciso remontar e voltar ao processo escravocrata que vivemos por quase 400 anos.

Para ele, a concepção de política de segurança pública que temos no país é uma visão militarizada e fundamentada em práticas e teorias que fundamentam a guerra, sendo os negros os novos inimigos da nação e que deveriam ser eliminados. “Isso é nítido, é notório tendo como base a lei da vadiagem, a perseguição aos capoeiristas, as escolas de samba e isso chega no rap e no funk”, exemplifica Santos.

Bruno Ramos trouxe para discussão as perseguições ao movimento do funk. Segundo ele, esse tipo de perseguição não nasceu com o movimento e nem vai terminar, porque tem muito mais relação com o racismo estrutural. “O que o movimento funk sofre hoje são 100 anos de perseguição, criminalização e estigmatização da música e da cultura periférica e a lei da vadiagem ainda se faz presente. Alunos da PUC, Mackenzie e USP que curtem exatamente o mesmo som em suas festas não são hostilizados como os jovens pretos na periferia”, exemplifica Ramos. Na opinião dele, é preciso aprofundar mais esse discurso e fazer com que o poder público entenda e colabore com a cultura periférica e não a combata e a reprima.

Para Tamires Sampaio, a história da escravidão e o racismo estrutural se relacionam com as instituições, com o direito, a política, a economia, a ideologia e, principalmente, nesse quesito faz com que toda manifestação cultural negra seja criminalizada e demonizada de todas as formas. “A cultura tem um potencial enorme de formação intelectual e crítica para população periférica, pobre e negra e isso é um problema para um país estruturalmente racista, porque se a população periférica, a partir da cultura e a partir da educação, começa a ter um despertar de consciência e uma postura crítica sobre a nossa estrutura social, a galera que está no poder teria um sério problema, de uma massa que tem noção do que está de fato acontecendo e que sabe como reagir, como combater e como fazer oposição”, enfatiza Sampaio.

Anderson John lembrou que a realidade continua sendo ruim para os jovens pretos no Brasil, pois a cada 23 minutos um jovem preto morre. Para ele, a cultura tem um papel fundamental na vida desses jovens que buscam uma saída através do funk. O jovem se torna empreendedor na periferia muito cedo, para atender a essa demanda vinda do setor cultural, porém ninguém enxerga ou apoia.

Sobre a truculência policial na quebrada, John se indigna de como a polícia trata a questão. “A polícia tem um plano de execução e não de diálogo. Ela tem o objetivo de liberar a via e faz isso quase sempre mediante a força e até a letalidade”. Sobre o número elevado de mortes, ele ressalta que a sua luta contra esse genocídio é tentar dialogar com o poder público e a sociedade, levando políticas públicas para dentro das comunidades e, principalmente, ouvir o que eles têm a dizer.

A série de debates trouxe luz, reflexão e, o mais importante, pontos de vistas variados e diferentes sobre um tema tão complexo e, ao mesmo tempo, tão urgente a ser combatido com ações efetivas que façam cair os assombrosos números do Mapa da Violência no país.

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