Publicado 26 de janeiro de 2022 14:56. última modificação 26 de janeiro de 2022 15:05.

OUVIR
Notícias, Opinião

Artigo: A Polícia de São Paulo e a Servidão Voluntária – por Paulo José Ribeiro da Silva

A vida social exige regramento pela limitação de direitos individuais em benefício da coletividade e, para isso, o “Estado” cria seu braço armado que tem como missões principais SERVIR e PROTEGER. São instituições que se arrastam pelos séculos trabalhando e atendendo a todos, sobretudo os menos abastados. É desse ambiente de menos favorecidos que a instituição policial recruta seus quadros e onde residem aqueles a quem, como regra, a Polícia combate ou reprime.

Todos são iguais perante a lei. Os Policiais Militares não têm direito à sindicalização e à greve. Liberdade política e de pensamento são limitadas pela Carta Magna que ainda lhes tolhe direitos trabalhistas, concedendo-lhes, de um total de 34, apenas 3 direitos. Diante desse “espírito d renúncia”, esses trabalhadores cerram fileira por vocação. Não é apenas idealismo que deve encantá-los. Sonham com salário digno para que possam viver plenitude da lealdade e suprir suas necessidades básicas e de suas famílias.

Guiados pelo lema LEALDADE E CONSTÂNCIA, têm seus passos calcados nos pilares da HIERARQUIA e DISCIPLINA que fundeiam rigoroso sistema de controle interno, cujo expoente é o Regulamento Disciplinar. Usado para dissuadir condutas dissonantes do proceder institucional, por vezes, serve como base para inibir o exercício de direito pleno.

Governantes ineptos desconhecem a fluência da LEALDADE, uma via de duas mãos, resumida na palavra RECIPROCIDADE e valem-se do poder regimental e da aparente obediência cega para praticarem atos desrespeitosos à dignidade desses trabalhadores.

Nesse ponto, cria-se o problema de gerência: como é possível proteger sem ter proteção? Como é possível ser leal diante de escandalosa deslealdade? A esses profissionais
não foi dado o direito do embate político, apenas o trabalho. Pra tudo há limite. Inclusive para indivíduos que doam suas vidas por um parco salário que lhes permite apenas comprar alimentos, aproximando-os da condição análoga à de escravos.

A cada dia é possível sentir a desmotivação dos trabalhadores da segurança pública desiludidos pelas juras de “pés juntos” feitas pelo atual mandatário, sem o menor compromisso em cumpri-las. Já vai longe a promessa de transformar a Polícia Paulista no segundo melhor salário do Brasil, que permanece estagnada como segundo pior. Não bastasse isso, ao arrepio da lei, vai criando “agrados” ou vantagens temporárias que excluem inativos e pensionistas. “Tudo posso naquele que me fortalece”, afinal, a qualquer ato de indisciplina, o sistema punitivo se erguerá contra os recalcitrantes. E nesse escoramento, administradores
inconsequentes se esbaldam.


‘É visível para todos a violência das águas, menos o silêncio opressor das margens do rio’. Tal qual esta alegoria, os trabalhadores seguem sua sina como cordeiros a serem imolados, passivos, espremidos que estão pelo silêncio obsequioso que lhes brinda a norma coatora. Em meio a tantos, há os que aceitam a submissão, há os que se rebelam e enveredam para a
indisciplina e há alguns que se rebelam em silêncio e explodem e violência contra si, aumentando o número de suicídios na PM de São Paulo.

A desmotivação, em tempo de redes sociais, se transforma em descontentamento contagioso que se espraia pelas camadas mais subalternas. Elas são insufladas por ex-policiais demitidos ou expulsos que pregam a luta de classes entre Praças e Oficiais, visando ao esboroamento dos pilares institucionais de hierarquia e disciplina.

A inépci governamental não trouxe como consequência apenas a desmotivação. A omissão abriu espaço para o risco maior à disciplina nos quartéis: o BOLSONARISMO. Esse fenômeno, semelhante a sereias, tem encantado parcela do efetivo na ilusão de um grande projeto político que, ao final, se mostrará vazio e danoso para os que o seguirem. Qual o desfecho? Um mergulho sem volta em um rio de intolerância e de ignorância, cujo canoeiro é um moderno Flautista de Hamelin, travestido de mito.

PAULO JOSÉ RIBEIRO DA SILVA
Tenente Coronel da Reserva da PMESP
Mestre em Ciências Policiais de Ordem e Segurança Pública.

@pribeiro1984

Compartilhe
Esta seção do nosso portal é destinada a filiados e simpatizantes do PSB, assim como a qualquer cidadão que deseje expor suas ideias, apresentar estudos e opiniões. Tem o objetivo de apresentar o pensamento das pessoas que compõem nosso partido e atuam junto à FJM e à FMA, ou não, para fomentar e enriquecer o debate sistemático de ideias[1]. [1] Os textos postados nesta seção são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a opinião do PSB, da FJM ou da FMA.
compartilhamentos: