Publicado 4 de novembro de 2020 20:11. última modificação 5 de novembro de 2020 22:19.

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Semana Celso Furtado discute projetos de desenvolvimento em sua abertura

No primeiro encontro, convidados especiais debateram a “Superação do subdesenvolvimento e Projeto Nacional de Desenvolvimento”

Em homenagem ao centenário do economista paraibano Celso Furtado, um dos mais destacados intelectuais brasileiros, e como parte das comemorações dos seus 30 anos, a Fundação João Mangabeira (FJM) promove, de 3 a 6 de novembro, a Semana Celso Furtado.

O tema do encontro de abertura foi “Superação do subdesenvolvimento e Projeto Nacional de Desenvolvimento”, e contou com a participação de Ricardo Bielschowsky, professor do Instituto de Economia da UFRJ, e Inês Patrício, professora de Economia da UFF, além das importantes falas do Presidente da Fundação João Mangabeira , Ricardo Coutinho; do Diretor-Presidente do Cicef – Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, Roberto Saturnino Braga; do Coordenador da ABED- Associação Brasileira de Economistas pela Democracia, Adroaldo Quintela; e do Professor Carlos Brandão, da Organização da Semana Celso Furtado.

A mediação ficou por conta do diretor de organização da FJM, Fábio Maia, que relatou um pouco da história de Celso Furtado, paraibano da cidade de Pombal, que “foi um economista brasileiro e um dos mais destacados intelectuais do país ao longo do século XX. Suas ideias sobre o desenvolvimento econômico e sobre o subdesenvolvimento enfatizavam o papel do Estado na economia, com a adoção de um modelo de desenvolvimento econômico de corte pré-keynesiano”.

Em seguida, o presidente da FJM, Ricardo Coutinho, falou da honra de poder celebrar os 100 anos de um dos maiores pensadores do mundo, que deu uma contribuição extraordinária para a economia através de sua visão social. “A Fundação quer não apenas discutir o pensamento de Celso Furando no século XX, nós queremos que todos os participantes nos ajudem a reelaborar, a compreender e ao mesmo tempo a formular um futuro que seja mais generoso para o nosso povo e para a população como um todo. Que seja um futuro mais desenvolvido e principalmente com inclusão social. O grande desafio da Semana Celso Furtado vai ser fazer a releitura de seu pensamento na atualidade e olhando para o futuro, com todas as mudanças que envolvem a nossa vivência: as das relações trabalhistas, no acúmulo da produção no mundo, na previdência, na visão sobre proteção social, entre outras. Queremos ter uma ideia da visão que Celso Furtado teria sobre a realidade atual para podermos projetar um caminho de superação de tamanhas desigualdades que o nosso país vivencia”, revelou o presidente da FJM.

Responsável pela organização da Semana Celso Furtado, o professor Carlos Brandão ressaltou que o pensador é um dos mais importantes intérpretes das especificidades sociais, históricas e econômicas do Brasil e da América Latina. “Pensador, servidor público e cidadão do mundo, foi o formulador de um arcabouço teórico, de um modo de interpretação e de uma proposta de intervenção que busca a transformação da realidade brasileira. Suas concepções foram sempre marcadas pela originalidade, atualidade e perenidade. É um grande erudito intelectual que criou e mobilizou ideias sempre com extremo comprometimento social e político. Hoje, fica cada vez mais patente a atualidade de seu pensamento global para se armar uma reflexão crítica de longo alcance sobre os destinos civilizacionais dessa nação, que continua em construção interrompida – expressão que ele utilizava sempre para denunciar as forças retrógradas que frequentemente interrompem a construção da nação. Forças que buscam preservar a situação brasileira marcada pelo atraso, pela heterogeneidade e pelas desigualdades de toda ordem”, falou o professor, ressaltando que os temas e problemáticas por tratados pelo intelectual permanecem na ordem do dia se se deseja discutir uma agenda política estratégica para a nação.

O Senador Roberto Saturnino Braga, diretor presidente do Centro Interacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento (Cicef), ressaltou a necessidade da união dos brasileiros que se preocupam com o país em torno de um projeto nacional de desenvolvimento. “O Brasil está impregnado desse sentimento de que é sua vocação crescer e se afirmar no mundo como um país dotado de infraestrutura econômica mas também de um pensamento cultural universal”, concluiu Braga.

Adroaldo Quintela, Coordenador da ABED – Associação Brasileira de Economistas pela Democracia, falou da importância do pensamento original de Celso Furtado para quebrar certas ideias no pensamento econômico. Uma delas, a de que o subdesenvolvimento é uma etapa para se alcançar o desenvolvimento. “Na verdade o subdesenvolvimento é uma situação dos países que o vivenciaram e/ou o vivenciam de terem passado por um capitalismo tardio, e isso representa uma situação de subordinação na divisão internacional do trabalho e dentro das suas classes dirigentes. É o que o pensador chamou de mimetização dos padrões de consumo e de renda das economias mais avançadas”, assinalou Quintela.

Após a mesa de abertura da Semana Celso Furtado, o debate foi iniciado com a participação do professor do Instituto de Economia da UFRJ, Ricardo Bielschowsky. “Ele foi o principal formulador da teoria estruturalista do subdesenvolvimento periférico latino americano e brasileiro, e ao mesmo tempo se descrevia como militante intelectual a serviço da transformação política”, disse Bielschowsky. “E a resposta do porquê o estruturalismo da obra de Furtado seja tão atual não é muito animadora: ele se mostra contemporâneo porque apesar de alguns avanços socioeconômicos, o subdesenvolvimento na América Latina e no Brasil ainda não se desfez”, explicou o professor.

Inês Patrício, professora de Economia da UFF, questionou que homem perseguido foi Furtado, que precisou sair do país e ficou dez anos sem direitos políticos. Ela também lembrou que o intelectual participou apenas de governos democráticos. “No processo de redemocratização, ele, com uma paciência incrível, participava das reuniões e enfatizava o problema da dívida externa. Muitas vezes era desautorizado e continuava pacientemente a discutir a agenda econômica da redemocratização, que ele sabia da necessidade de ser clara”, contou Inês. “Por isso, vejo que hoje, na aliança que devemos fazer – e até conciliar com inconciliáveis – precisamos encontrar uma maneira para fazer com que os liberais e parte da sociedade civil que preferiu não votar no candidato democrático, aceite a inclusão na agenda o projeto progressista de Furtado e ao mesmo tempo garantir uma mudança institucional que permita que a democracia não sofra golpes como tem sofrido no Brasil”, concluiu a professora.

Com uma programação de debates sobre política econômica, a Semana Celso Furtado tem apoio institucional da Associação Brasileira de Economistas Pela Democracia (ABED) e do Centro Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento (CICF). A transmissão dos debates ao vivo é realizada por meio das redes sociais da Fundação João Mangabeira, até o dia 6 de novembro a partir das 19h, com previsão de encerramento às 21h.

Confira a programação dos próximos encontros:

4/11, quarta-feira, 19h: Planejamento Regional e Federalismo

  • Tania Bacelar de Araújo – Professora do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE e Sócia da CEPLAN Consultoria Econômica e Planejamento. Ex-Secretária Nacional de Políticas Regionais.
  • Clélio Campolina Diniz – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional/UFMG). Ex-Reitor UFMG e Ex-Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil (2014).
  • Moderadora: Hipólita Siqueira de Oliveira – Professora de Planejamento Regional do Instituto de Pesquisa e Planejamento Regional da UFRJ. Co-autora do livro Pacto federativo, integração nacional e desenvolvimento regional. Ex-Diretora da ANPUR – Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional.

5/11, quinta-feira, 19h: Cultura, Inventividade e Economia Criativa

  • Rosa Freire de D’Aguiar (CICF. Jornalista e Tradutora)
  • César Ricardo Siqueira Bolaño – Professor da UFS. Foi presidente Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC). Autor de livros sobre Celso Furtado e Cultura.
  • Cláudia Sousa Leitão – Professora da UECE. Ex-Secretária da Cultura do Estado do Ceará (2003-2006) e Ex-Secretária Nacional da Economia Criativa (2011-2013).
  • Moderador: Prof. Carlos Brandão

6/11, sexta-feira, 19h: Conclusão do Ciclo de Debates “Democracia, Soberania e Participação da População nas Decisões”

  • Gilberto Bercovici – Professor Titular de Direito Econômico da USP e CICF
  • Roberto Saturnino Braga – Diretor-Presidente do Cicef – Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.
  • Adroaldo Quintela – Coordenador da ABED- Associação Brasileira de Economistas pela Democracia.
  • Prof. Carlos Brandão – Organização da Semana Celso Furtado
  • Moderador: Alexandre Navarro (Vice-Presidente da FJM
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