Publicado 20 de novembro de 2020 16:49. última modificação 20 de novembro de 2020 16:49.

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RACISMO NUNCA MAIS!

VIVAM ZUMBI E A CONSCIÊNCIA NEGRA!

Hoje, os brasileiros celebram o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi criada em janeiro de 2003, por meio de lei federal que determinou a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileiras” no currículo escolar. Em 2011, foi oficialmente instituída, para rememorar a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares e para celebrar a memória dos ancestrais africanos e afro-brasileiros escravizados.

Zumbi era filho de africanos escravizados e nascido no Quilombo dos Palmares, comunidade autônoma e de resistência contra a opressão colonial portuguesa e expedições repressivas de holandeses. O Quilombo foi criado em fins do séc. XVI, na região da Serra da Barriga, em território do que era, então, a Capitania Hereditária de Pernambuco, hoje situado no estado de Alagoas, por africanos que se libertaram de sua escravização, suplício e barbarização nos engenhos coloniais de cana de açúcar.

O líder negro foi morto, em 20 de novembro de 1695, depois que um de seus companheiros chamado Antônio Soares revelou, sob tortura, o local de seu esconderijo. Um bandeirante chamado André Furtado de Mendonça, a mando de Domingos Jorge Velho, organizou uma emboscada que localizou Zumbi. Após ser assassinado, teve sua cabeça e suas mãos decepadas e expostas, barbaramente, em Recife.

A atualidade e relevância das lutas negras em nosso país decorrem do racismo estrutural que mantem nossa sociedade em profundo atraso civilizatório. Os indicadores sociais atestam, triste e revoltantemente, a segregação explícita e intolerável contra as brasileiras e brasileiros negras e negros.

Conforme dados divulgados, recentemente, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), no Brasil, os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma década. Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018, período avaliado, a taxa entre não negros (brancos, amarelos e indígenas) fez o caminho inverso, apresentando queda de 12,9%. Feito com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, o relatório evidencia ainda que, para cada pessoa não negra assassinada em 2018, 2,7 negros foram mortos, estes últimos representando 75,7% das vítimas. Enquanto a taxa de homicídio a cada 100 mil habitantes foi de 13,9 casos entre não negros, a atingida entre negros chegou a 37,8.

Tragicamente, desde ontem, véspera deste dia de enfrentamento do racismo em nosso país, tod@s @s brasileir@s socialmente atentos e sensíveis acompanham, com perplexidade e indignação, os acontecimentos que culminaram no assassinato brutal de João Alberto Silveira, um brasileiro, preto, de 40 anos (a mesma idade com que Zumbi foi morto). A barbaridade foi covardemente cometida por dois seguranças de uma loja do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Ao contrário do que absurdamente afirmou, hoje, o vice-presidente da República, general Mourão, nós democratas e socialistas representados na Fundação João Mangabeira, declaramos nosso mais veemente repúdio ao assassinato brutal; nossa exigência de que esse crime abominável seja pronta, exemplar e rigorosamente apurado e punido. Manifestamos, também, nossos veementes protesto e repulsa contra o negacionismo governamental, que, mesmo diante das mais eloquentes evidências estatísticas, sociais e trágicas, não se envergonha de negar o racismo que, cotidiana e estruturalmente, humilha e violenta a maioria negra da população brasileira.

Reiteramos, assim, nosso firme compromisso com a luta democrática, civilizatória e permanente pelo fim e pela superação definitiva do racismo estrutural e de todas as formas de discriminação e de violência.

Ricardo Vieira Coutinho Presidente da Fundação João Mangabeira

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