Publicado 4 de março de 2021 09:09. última modificação 4 de março de 2021 09:09.

OUVIR
notícia pense brasil virtual, Notícias

Pense Brasil 2021 discute a posição do Brasil na geopolítica global

Encontro virtual, que contou com a presença do diplomata Celso Amorim e do deputado federal Camilo Capiberibe, foi mediado pelo presidente da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho

O Pense Brasil Virtual teve mais um encontro na última terça-feira, 2 de março. Com o tema “A Nova Geopolítica Global e o Brasil sequestrado pelo atraso”, a edição mais recente contou com a participação do diplomata e ex-ministro Celso Amorim e do deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP). Mais uma vez, a mediação foi realizada pelo Presidente da Fundação João Mangabeira (FJM), Ricardo Coutinho.

Abrindo o debate, Coutinho traçou um quadro geral da situação do Brasil perante os desafios da pandemia da covid-19. “O que me chama a atenção é como, um ano depois do início da pandemia, nós continuamos completamente perdidos”, lamentou. “O Brasil, me parece, é um pária internacional. O Brasil não conseguiu se articular, ou melhor, destruiu aquilo que tinha, que era uma excelente rede de vacinação. Nossas campanhas sempre foram muito boas. O problema atual não é só a covid, é que o estado brasileiro foi sendo destruído. A sua rede de saúde, principalmente, foi sendo destruída.”

Amorim começou seu comentário relembrando um painel da ONU sobre o vírus ebola, do qual participou em 2015. “Segundo o relatório do painel, se nada fosse feito, aconteceria isto que está acontecendo agora”, afirmou. “Houve sempre muita relutância em colocar recursos em coisas que não dão lucro imediato, essa que é a verdade. Você encontra muito dinheiro encaminhado para armamentos, e para a saúde, relativamente poucos, e para a saúde mundial, menos ainda, e para os sistemas de alerta, menos ainda.”

Falando sobre o caso específico do Brasil, o diplomata declarou: “O que está acontecendo no Brasil é espantoso. Não só no número, mas na atitude. Os números na Europa, na França, na Itália são grandes, mas a atitude dos governantes é outra. Eles estão lutando para diminuir aquilo, estão fazendo tudo que é necessário. Podem ter errado aqui e ali, por exemplo, o Reino Unido da primeira vez errou, o Boris Johnson acreditava na imunidade de rebanho, mas depois mudou. O que é espantoso no Brasil é essa atitude, esse descaso, essa aceitação. Eu fui diplomata de carreira antes de ser ministro, por 40 anos, e eu nunca vi uma coisa igual ao que vemos hoje.”Capiberibe destacou também a irracionalidade das posições e ações do governo Bolsonaro na diplomacia e nas relações internacionais: “É da lógica de um país querer o melhor para si próprio, para o crescimento, para a segurança, para a proteção dos seus habitantes, e tudo que a gente vê acontecendo no nosso país desde o início do governo atual aponta para atitudes irracionais. A gente fica desnorteado tentando compreender qual o objetivo, porque qualquer política pública tem um objetivo. Atacar a China, se isolar dentro do Brics, virar as costas para a América Latina, criar uma relação umbilical não com os Estados Unidos e o que ele representa, mas com uma administração específica, que era a do ex-presidente Donald Trump, inclusive fazendo campanha, se intrometendo na política interna de outro país, como foi feito aqui na Argentina. O resultado disso é a situação em que o Brasil se encontra no momento atual.”

Na visão de Amorim, existe uma saída, mas ela não será fácil. “Nós vamos gastar muito capital em coisas que nós não precisaríamos gastar, e essa destruição que está ocorrendo é uma coisa também sem paralelo”, afirmou. “Eu acho que a gente tem que ter uma frente muito ampla para parar com a loucura. Vamos parar a loucura já! Chega de loucura! A loucura está matando. Eu acho que a gente tem que conversar com todo mundo que queira parar a loucura. Você é a favor da vida, da vacina, de ter mais emprego, da ajuda emergencial e de defender a democracia? Então vamos juntos nessa. E lá na frente cada um vai pelo seu caminho, como foi no passado. Teve a grande frente ampla pelas Diretas Já e depois separou, cada um para o seu lado.”

O debate também tocou na questão da nova administração dos EUA, sob o presidente democrata Joe Biden, e a influência do país sobre o Brasil e o resto do continente americano. “Há um fenômeno estrutural, independente de quem está no governo norte-americano, porque a nação americana não convive bem com uma outra grande potência no mesmo Hemisfério”, apontou Amorim. “O Brasil vai ter sempre essa imensa dificuldade, como já teve no passado. Não só por isso, mas também por isso, eu defendo que cada vez mais a gente trabalhe integradamente com a América do Sul. Nós estamos vendo esse renascimento das forças progressistas na América do Sul e isso é muito importante também para o Brasil.”

No fim do encontro, Capiberibe resumiu parte da questão diplomática: “A nossa diplomacia sempre teve esse reconhecimento de sua capacidade, nós fomos para um outro patamar como país dialogando, sendo recebidos com a nossa autoestima, e o brasileiro foi junto. E agora nós vivemos esse isolamento, essa tristeza nesse campo. Dialogar é da essência da democracia e acho que nós vamos precisar dialogar muito para tirar o Brasil da beira do precipício.”

Anunciando o próximo Pense Brasil, marcado para 8 de março às 19h30, Coutinho arrematou: “Vamos seguindo, conversando sobre o Brasil, discutindo, arregimentando forças, acreditando no futuro, combatendo o bom combate e repensando o Brasil. O Brasil precisa de um projeto onde se enfrenta as questões mais imediatas, como economia, democracia e Estado de Direito. E talvez seja isso que esteja faltando aos partidos, uma clareza acerca disso, porque, se você tem concordância no projeto, então quem vai representar, sinceramente, é o que menos importa.”–

Compartilhe
compartilhamentos: