Publicado 28 de setembro de 2019 17:02. última modificação 28 de setembro de 2019 17:02.

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Novos desafios econômicos e sociais foram tema de Seminário da FJM no ES

No Espírito Santo, 220 pessoas participaram do evento que discutiu desenvolvimento sustentável, novos modelos econômicos e desafios atuais da democracia

Presidente da FJM Ricardo Coutinho parabenizou a equipe estadual pela realização do evento

Um dia inteiro de debates sobre temas de grande relevância para o momento atual do país e para o desenvolvimento social, econômico e político mais sustentável. Assim foi o seminário “Perspectivas do Socialismo Contemporâneo”, promovido pela coordenação estadual da Fundação João Mangabeira (FJM) no Espírito Santo, com apoio da direção nacional da FJM, no último 27 de setembro.

O evento foi aberto, reunindo participantes de diversas representações de movimentos sociais, sindicalistas, militantes, simpatizantes da bandeira socialista e universitários interessados no tema.

Ex-governador Márcio França e vice-governadora Jaqueline Moraes e convidados com

A programação foi dividida em quatro painéis e quatro grupos de trabalho dirigidos por especialistas em economia, inovação, empreendedorismo, trabalho, além de nomes importantes da política e da sociologia, que vieram ao Estado para ampliar essa discussão e agregar cada vez mais pessoas na formulação de políticas públicas mais igualitárias para o nosso país.

Entre as atividades, o público também presenciou dois atos culturais. O Coral das Águas da Cesan abriu a programação do evento, e, ao final do dia, houve a apresentação do Grupo Tocata Brass, da FAMES. Ainda aconteceu a entrega de casacas aos painelistas, debatedores e expositores que integraram o conteúdo programático do seminário. Instrumento ícone da cultura capixaba, a casaca foi produzida pela Associação de Congo da Serra.

vice-presidente da FJM(segundo da esquerda pra direita), Valneide Nascimento(entre os dois) e ex-senador João Capiberibe(ao centro)

Parceria Brasil – China

Logo pela manhã, o painel de abertura foi sobre a “China e a Geoeconomia Mundial”, que recebeu o cônsul-geral da China no Brasil, Li Yang, além de Paulo Nakatani, do Departamento de Economia da UFES, e sob mediação de Carlos Eiras, dirigente da Câmara de Comércio China- Brasil no ES. Os debatedores analisaram sobre o impacto da emergente presença da China nas relaçoes comerciais mundiais, que equilibram a
questão capitalismo X socialismo. Ainda foi abordada a importância da balança comercial entre Brasil –China e os parceiros do BRICS (bloco econômico Brasil, Russia, India, China e África do Sul), visto ser China o principal parceiro comercial do Brasil no bloco.

O consul Li Yang comentou que, do seu ponto de vista, o papel que a China continuará a impulsionar no Brasil é focado nos laços econômicos bilaterais, e que este é um ano político especial para ambos os países. “Nós vamos celebrar o 45º aniversário das nossas relações diplomáticas bilaterais. Nossos líderes nacionais virão ao Brasil participar de comitê e o seu presidente irá para a China em sua primeira visita oficial. Portanto, essas trocas políticas facilitarão nossas cooperações econômicas bilaterais e darão um grande impulso à esta parceria estratégica de longa data. Há grande esperança que no futuro próximo poderemos fazer melhor de acordo com as circunstâncias”, revelou.

Paulo Nakatani comentou sobre a decaída do capitalismo e a importância de fortalecer o Socialismo como ideologia. “Há décadas o capitalismo não tem mais alternativas de crescimento. E o processo de consumo criado por essa sociedade destrói os recursos naturais. Então a humanidade precisa repensar para onde estamos indo”. Ele lembrou que 6 brasileiros retêm uma riqueza igual a 50% da população, e que há 12 milhões de desempregados no país, uma força de trabalho parada que poderia estar produzindo também. “Temos uma desigualdade de propriedade, de renda, de riqueza, que leva uma massa enorme da população a viver em condições precárias, e que a sociedade precisa encontrar um caminho. Nos processos históricos, o Socialismo é uma alternativa para além do capital, que passa a desenvolver a sociedade para ela mesma e não para um grupo restrito”.

Governador Renato Casagrande

Democracia em xeque

Em seguida, o segundo painel trouxe o tema da “Democracia no Centro da Razão Política”, que foi apresentado por Márcio França, ex-governador de SP, e o jornalista Osvaldo Maneschy, do Observatório da Democracia, sob a mediação de Maria Teresa Rosindo, da OAB-ES Mulher. A vice-governadora do Estado, Jacqueline Moraes, abriu falando da relevância de um evento como esse. “Debater o socialismo contemporâneo num momento em que há um discurso mundial de intolerância e perda de respeito pelas ideias, é algo riquíssimo, pois fortalece a base do que acreditamos: uma sociedade mais humanitária, justa e que busca o respeito”.

Sob uma ótica otimista, Márcio França indicou uma nova perspectiva para avaliar o momento atual do país e reforçou a importância do PSB indicar uma nova liderança para as próximas eleições. “Talvez o lado positivo desse momento é que as coisas ficaram mais claras. Antigamente ninguém sabia direito em que posição estava. E toda vez que a humanidade deu um passo à frente, foi a partir de uma dificuldade. Logo, pessoas mais parecidas, que pensam coletiva e democraticamente, estão se juntando como reação ao Bolsonarismo e isso tem seu lado positivo para pensar os próximos passos”.

Maneschy revisitou a história política do Brasil e contou sua experiência acompanhando de perto grandes nomes da política brasileira. “Temos que visitar nossa história para saber a importância da nossa união. Separados, desunidos, como nós chegamos nessa última eleição, é um caminho certo para a derrota. Mas devemos lembrar que só 30% dos brasileiros votaram em Bolsonaro. O povo não está com ele. O nosso papel nesse momento é defender o nosso país. O momento é grave”, alertou.

Resgate Histórico

Encerrando os debates da manhã, o terceiro painel foi um resgate histórico do Socialismo Europeu: Contribuições e Conflitos, com João Capiberibe (PSB-AP) e Namy Chequer (PcdoB ES).

João Capiberibe frisou um ponto importante de diagnóstico, que é a desconfiança do cidadão em relação às instituições, principalmente às representações políticas, e os meios do PSB para recuperar essa confiança. “As pessoas não se identificam com seus representantes. Essa ruptura das relações impede que se resolva outras graves crises que nós estamos vivendo. Para dar solução a esses problemas temos que superar essa desconfiança e uma das maneiras é tornando o estado absolutamente transparente para o cidadão acompanhar”, afirmou, relembrando o salto dado com a Lei da Transparência 131/2009, de autoria do PSB que obrigou a criação dos portais de transparência em todo o Brasil e a publicação em tempo real das despesas públicas.

Outra proposta de lei recente do partido, que está em aprovação, é a Lei da Gestão Compartilhada no acompanhamento da execução de obras, serviços públicos, compras governamentais, a partir de grupos organizados por aplicativos. “É uma maneira de recuperar a confiança perdida e aproximar o cidadão do poder público através da tecnologia”, completou.
Namy Chequer fez um resgate histórico dos países onde o Socialismo foi implementado e ressaltou que, assim como o Capitalismo não se apresenta no mesmo modelo em lugar nenhum do mundo, os socialistas também terão o desafio de inventar um modelo brasileiro, nas bases da democracia, considerando suas próprias características. “Não existe um modelo pronto. Teremos que descobrir qual a melhor forma de socializar o Brasil, sendo o Brasil como ele é, com as raças, religiosidades, natureza, formação do nosso povo, o jeito de ser brasileiro. Uma transição que vai levar gerações, a sociedade vai caminhar muito até construir um sistema de organização social abolindo a exploração do homem pelo homem é até a existência do estado”, completou.

Grupos de Trabalho discutem soluções para desafios atuais

Na segunda parte da programação, o público se dividiu em quatro grupos de trabalho, previamente escolhidos na inscrição, que tinham como objetivo apresentar um panorama acerca de temas atuais. Dois deles tinham estreita relação com as transformações tecnológicas e as alterações dos modos de produção vivenciadas globalmente. Além disso, os GTs muniram os participantes de ideias e informações para, juntos, apontar possíveis caminhos para executar na prática as estratégias de atuação nessas áreas.

Desenvolvimento Sustentável

O Grupo de Trabalho 1 trouxe como tema os “Objetivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável: O futuro que queremos”, direcionado por Rayssa Mendes, da ONG Politize, e Carlos Aurélio Linhalis, da Cesan, com a mediação de Fabrício Pancotto, da Politize. Eles falaram do relatório da ONU com os 8 Objetivos do Milênio (ODM – 2000), que inspirou em 2010 os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, se desmembrando em 169 metas que devem ser atingidas globalmente até 2030. Hoje há a visão de que cada país deve elencar suas metas prioritárias, considerando
as particularidades regionais, e que no Brasil, o saneamento básico tem uma relação direta com quase todos os ODS.

A nível estadual, abordou-se que o Estado e a Cesan devem trabalhar de forma integrada junto aos municípios para criar ações do ponto de vista ambiental dentro dos ODS, a curto e longo prazo, fornecendo não só saneamento e distribuição de água, mas pensando também no reflorestamento de mata ciliar para a recuperação das nascentes, além de levar cidadania às comunidades por meio de programas de saúde, esporte, educação ambiental. “Não existe um país que vai ter sucesso sem voltar para as bases e olhar para a sociedade”.

Transformações do mercado de trabalho

Já o Grupo de Trabalho 2 abordou a questão do “Trabalho: quais novas lógicas e dimensões?”, que foi encabeçado por Paulo Afonso Bracarense, da FJM-PR, e Roselito Ribeiro, do CTB-ES, sob a mediação de Bruno Lamas, da Setades-ES. Foram discutidos os reflexos dos novos modelos de trabalho, e de uma nova lógica trabalhista mais atrelada ao desenvolvimento sustentável, priorizando o fomento ao trabalho decente (condições de trabalho dignas e humanas) e o fomento ao emprego verde (que seja sustentável no mais amplo sentido da palavra).

O grupo também refletiu sobre como enfrentar o desemprego e a crise econômica usando a tecnologia de maneira útil na melhoria das condições de trabalho, e não só como ameaça aos postos de trabalho.

Inovação e economia criativa

“A Inovação Tecnológica e a Economia Criativa” foi o assunto do Grupo de Trabalho 3, comandado por Domingos Leonelli, presidente do Instituto Pensar (BA) e um dos maiores especialistas brasileiros sobre o tema, e Fabricio Noronha, secretário da Secult-ES. Leonelli explicou que o conceito de Economia Criativa ainda está em construção no sentido de envolver setores da indústria, cultura, economia e tudo que abrange o processo econômico, e ressaltou a importância da tecnologia e da economia criativa como estratégias para o desenvolvimento das comunidades, apontando seus diversos setores como alternativas para a redução das desigualdades.

Noronha apresentou o projeto ES + Criativo, que atua nesse sentido. Frisou ainda os princípios da economia criativa, que são: sustentabilidade, diversidade, inovação e inclusão social. “O modelo de economia criativa tem que ser transversal (não pode se localizar em uma única secretaria e tem que se autogovernar) e não deve existir apenas com as estruturas tradicionais do governo, tem que envolver a academia, o governo, a comunidade”.

Crescimento demográfico e consumismo

O Grupo de Trabalho 4 expôs o tema “Demografia, Alimento e Energia”, e foi conduzido pelo deputado estadual Sergio Majeski (PSB-ES) e o professor Pablo Lira (UVV-ES), com a mediação de Aline Jatobá, advogada da OAB/ES. Majeski abriu o debate relacionando o contraste entre a diminuição acelerada do crescimento demográfico nos últimos anos e o aumento da produção de alimentos, que não erradicou a fome no mundo devido à má distribuição (cerca de 1 bilhão de pessoas ainda passa fome).

Ele abordou também a falta de acesso à energia elétrica (cerca de 840 milhões de pessoas ainda não têm acesso), indicando o consumismo atual como o grande motor da degradação ambiental e da escassez de recursos naturais. “Como oferecer igualdade de acesso a esses recursos sem degradar ainda mais o planeta?” Questionou. E apontou que a solução só surgirá quando a educação se tornar prioridade e a humanidade rever seus hábitos de consumo. Já o professor Pablo Lira foi mais a fundo com dados demográficos mundiais e falou também sobre os efeitos da revolução tecnológica e o processo de metropolização avançada nos países.

Desdobramentos

Após a conclusão dos GTs, todos se reuniram para acompanhar a apresentação dos relatórios dos Grupos de Trabalho, sob a coordenação do vice-presidente nacional da FJM, Alexandre Navarro. “Como relator geral, fico feliz em ver o resultado desses debates. Importante lembrar que a Sustentabilidade possui três pilares: economia, sociedade e ambiente. E os quatro grupos trabalharam temas que se integram dentro desses pilares, trazendo dados importantes, informações novas e contribuições que agora serão compiladas para buscar novas possibilidades de botar as estratégias em prática”, disse.

E na mesa de encerramento do seminário, mediada pelo diretor-presidente da Aderes, Alberto Gavini e pela vice-prefeita da Serra, Márcia Lamas, e cujo tema foi “Perplexidade e atitude: e agora, Brasil?” o governador do ES, Renato Casagrande, ao lado do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira (FJM) e do ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), fez uma análise dos retrocessos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais que o país está enfrentando e que ameaçam seriamente os ganhos democráticos conquistados nos últimos 30 anos. “Nós precisamos sair com propostas concretas. Não dá para ficar só no debate, tem que ter resultado para que a sociedade possa confiar no projeto que nós estamos apresentando para ela. Quem está tendo a oportunidade de governar, demandar e é dirigente partidário tem que ir para além da teoria, para enfrentar essa onda reacionária causada e fortalecida pela falta de aplicação de políticas públicas”, disse o governador Casagrande.

E para se preparar para esses desafios, o Partido Socialista Brasileiro passará por grandes mudanças, como explicou o presidente do partido, Carlos Siqueira. “O que o PSB quer fazer com a Autorreforma é uma mudança estrutural: atualização do seu manifesto (que ainda é de 1947), uma nova política internacional e uma nova política de comunicação. É uma nova forma de funcionar, com maior democracia interna e com possibilidade dos eleitores opinarem sobre as questões do país que estão em discussão dentro do partido”, completou.

Já o presidente nacional da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho, encerrou falando da força do partido no ES e parabenizou a equipe estadual pela realização do evento, dotando o partido de instrumentos e ideias capazes de devolver ao povo brasileiro a capacidade de sonhar. “É preciso retomar o protagonismo da geração das ideias e da discussão com a população. Esse o papel mais importante de um partido político, que o PSB e sua Fundação vêm cumprindo. O ES é um dos estados onde o PSB é mais forte, com um governador que tem políticas corretas, com equilíbrio fiscal e investimentos, que prepara o Estado para o futuro e é exemplo para os militantes retomarem seu ânimo”.

Seminário “Perspectivas do Socialismo Contemporâneo”
27 de setembro – 08h às 19h
Hotel Praia Sol – Rua Eudólio Cruz, n. 01 – Nova Almeida – Serra (ES)

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