Publicado 2 de setembro de 2019 09:05. última modificação 2 de setembro de 2019 09:05.

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Opinião – Folha de São Paulo: O PSB sai na frente – Celso Rocha de Barros

Opinião – Folha de São Paulo: O PSB sai na frente – Celso Rocha de Barros

Torço para que esse movimento seja o início de uma frente ampla de esquerda

Uma boa notícia: o Partido Socialista Brasileiro (PSB) aprovou, na última sexta-feira (30), uma resolução repudiando as violações de direitos humanos perpetradas pelo governo de Nicolás Maduro na Venezuela.

Na resolução, os socialistas manifestam “seu repúdio às violações de direitos humanos praticadas pelo governo venezuelano, descritas no relatório da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, típicas de regimes autoritários, como bem observado pelo ex-presidente do Uruguai, José Mujica”. Pedem que o regime venezuelano “acate, o quanto antes, as recomendações que constam do relatório da ACNUDH”, como, por exemplo, que se “ponha em liberdade todas as pessoas privadas arbitrariamente de sua liberdade”.

Ao mesmo tempo, os socialistas repudiaram qualquer tentativa de resolver a crise venezuelana por intervenção externa, e manifestaram seu apoio às tentativas do governo da Noruega de obter uma solução negociada.

A citação ao Frente Amplío uruguaio e aos socialistas chilenos na resolução do PSB não é gratuita. É nítido o esforço de se associar a exemplos bem-sucedidos da esquerda democrática sul-americana.

Nessa linha, o PSB propõe o reforço da CSL (Coordenação Socialista Latino-americana) como espaço de reunião dos partidos de esquerda “comprometidos com a redução das desigualdades, com o desenvolvimento econômico e social soberano dos países de nosso continente, com a democracia, com as liberdades e com os direitos humanos”, e anuncia seu desligamento do Foro de São Paulo.

O que a decisão do PSB mostra é claro: se o PT quiser desistir de ocupar a centro- esquerda, alguém vai fazê-lo.

Há um pedaço razoável do eleitorado que quer mais políticas sociais, mais participação do Estado na economia, maior tributação dos ricos, mas não tem o menor interesse na velha esquerda autoritária. Sob o lulismo, os governos do PT entregaram o que esse eleitorado queria, e assim o partido venceu quatro eleições seguidas.

Mas a postura do PT depois do impeachment deixou essa turma na mão. Haddad e outras lideranças vêm tentando mudar esse quadro, mas ainda não sabemos se serão bem-sucedidos.

O PSB foi um dos aliados mais tradicionais do PT desde a redemocratização, e indicou o vice da chapa de Lula em 89. Sempre brigou para ocupar o espaço entre o PT e o centro, sofrendo quando
Lula cobriu, ele próprio, essa distância. Em vários momentos acolheu ex-petistas que buscavam um caminho mais moderado (Erundina, Marina Silva), e já foi o partido de Ciro e Cid Gomes. Poderia ter ganho a Presidência se Eduardo Campos não tivesse morrido durante a campanha de 2014. Com a morte de Campos, passou por um período de crise em que sua militância tradicional teve que disputar espaço com direitistas que haviam aderido à legenda para apoiar Campos (e teriam ido para o PSD se Kassab não tivesse decidido apoiar Dilma). A esquerda recuperou o controle do partido em 2017, e agora os socialistas voltaram para o jogo.

Torço para que o PSB continue nessa direção, torço para que o PT e as outras legendas de esquerda o acompanhem, e, já que estou no embalo, torço para que esse movimento seja o início de uma frente ampla de esquerda que derrote as desigualdades brasileiras e deixe o autoritarismo para quem realmente tem vocação para a coisa.

Celso Rocha de Barros
Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford
(Inglaterra). – publicado em 2/9/2019

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