Publicado 22 de março de 2019 18:54. última modificação 22 de março de 2019 18:54.

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Especialistas discutem caminhos do desenvolvimento na quarta revolução industrial

Os países mais avançados criam estratégias para vencer os novos desafios da chamada quarta revolução industrial, em que as novas tecnologias têm papel mais relevante que a mão-de-obra humana, e alteram profundamente a maneira de viver da sociedade.

Ainda defasado em relação às necessidades das três primeiras revoluções industriais, o Brasil tem um desafio maior, levando em conta ainda que não tem um planejamento estratégico de desenvolvimento de longo prazo.

O assunto foi debatido nesta sexta-feira (22) no painel Sociedade, Indústria e Projeto de Desenvolvimento, durante o Seminário Internacional sobre Economia Criativa, promovido pelo PSB e pela Fundação João Mangabeira (FJM), em Brasília.

Lídia Goldenstein, doutora e mestre em Economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), afirmou que a economia criativa foi a estratégia de desenvolvimento que o Reino Unido encontrou para se defender das transformações no setor produtivo já na década de 1990.

Os pólos manufatureiros migraram do ocidente para a China, o que gerou uma perda massiva de empregos naquele país. O governo britânico então lançou uma estratégia articulada entre os diferentes ministérios governamentais para fortalecer setores ligados a novas tecnologias e à criatividade.

“São setores que hoje em dia geram o valor da indústria e que são capazes de fazer, desenvolver, exportar e gerar emprego . É toda parte de tecnologia, de marca e design”, disse.

Estados Unidos e China também fizeram investimentos expressivos em novas tecnologias e nos chamados setores criativos. “A China percebeu que a geração de valor de fato não era a manufatura, mas exatamente esses setores”, afirmou Lídia.

“Em seu plano qüinqüenal, o país traçou como meta deixar de ser uma economia baseada no ‘Made in China” para ser uma economia baseada em “Design in China”, explicou.

“Ou seja, a China também começou a perder indústria para o resto da Ásia conforme a mão-de-obra foi tornando-se mais cara no país”, complementou.

Os impactos da quarta revolução industrial no mercado de trabalho serão enormes. Nos próximos anos, 47% dos empregos que existem hoje nos Estados Unidos vão ser extintos. 65% das crianças de 8 anos vão trabalhar em empregos que não existem hoje, alertou Lídia.

“Há um processo que está levando a uma intensa robotização, a uma necessidade de mão-de-obra no setor de serviços que produz bens muitas vezes chamado de intangíveis. O desafio é muito maior do que imaginamos”, disse. “O mundo está no 5G, enquanto não temos nem o primeiro funcionando”, afirmou.

É necessário que o país construa estratégias de desenvolvimento olhando para o futuro, concluiu Francisco Saboya, mestre em Engenharia de Produção pela Universidade de Pernambuco e superintendente do Sebrae no Estado. “O país tem a mania recorrente de incluir o passado no presente. Nós temos déficit de futuro. Mas temos que incluir o futuro no presente”, defendeu.

“Vivemos hoje uma emergência numa sociedade onde o principal ativo é o talento e a capacidade criativa”, sustentou Saboya, que presidiu por 11 anos o Porto Digital, iniciativa do governo de Pernambuco que reúne 300 empresas e instituições dos setores de tecnologia da informação e comunicação e economia criativa.

Para Saboya, atrair e aglutinar os melhores talentos criativos para criar “ecossistemas” capazes de compartilhar e desenvolver capacidades tecnológicas, a exemplo do Vale do Silício, nos Estados Unidos, e do próprio Porto Digital, em Pernambuco, é uma das melhores estratégias que um governo, seja ele estadual ou municipal, pode fazer para contribuir com o desenvolvimento.

Se o país vive uma crise de pensamento estratégico, a China chegou a uma taxa de investimento de 47% do PIB impulsionado por áreas consideradas chave para o avanço nos diversos segmentos da economia criativa, como educação, pesquisa, desenvolvimento e design.

“O socialismo criativo é um estágio de desenvolvimento a ser alcançado. A economia criativa produz o seu próprio desenvolvimento. Ela não precisa da primeira, da segunda nem da terceira revolução industrial. Ela é a continuidade de ruptura a esses processos produtivos pretéritos”, afirmou Elias Jabbour, professor adjunto da Faculdade de Ciência Econômicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Jabbour citou algumas condições para o desenvolvimento do socialismo criativo, entre elas, “superestrutura de poder popular”, projeto nacional de desenvolvimento, indústria como eixo estrutural da economia, elem de sistema financeiro de longo prazo e, sistema nacional de ciência, tecnologia e informação.

 

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