Publicado 2 de junho de 2015 15:24. última modificação 2 de junho de 2015 15:24.

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“Diálogo Brasil”: para vencer a crise é preciso retomar o desenvolvimento e a representatividade política

 dialogo-brasil3O Brasil vive um conjunto de crises, tanto na economia, como nos setores hídrico e energético, culminando na crise ética, evidenciada pelos inúmeros escândalos de corrupção.

Com o objetivo de apresentar propostas que ajudem o país a superar esse cenário conturbado, foi realizada, na noite dessa segunda-feira (1°), em Porto Alegre, a terceira edição do seminário “Diálogo Brasil: Reflexões sobre a crise e os caminhos democráticos”. Promovido pelas fundações João Mangabeira (PSB), Astrogildo Pereira (PPS) e Herbert Daniel (PV), a atividade ocorreu no auditório da Famurs (Federação das Associações de Municípios do RS) e foi transmitida pela TV João João Mangabeira, contando com a participação de 5 mil internautas de todo o país.

“A política brasileira precisa resgatar, com determinação, a capacidade de representar a sociedade brasileira”, destacou o presidente da FJM, Renato Casagrande, ressaltando também que é preciso combater a generalização do descrédito em relação à classe política e as instituições. “Nossa intenção nessa hora difícil é semear propostas e caminhos concretos para o Brasil, de maneira participativa, ouvindo e debatendo com as lideranças e a população. É isso que temos feito nesse ciclo de debates”, completou.

O principal debatedor da noite, economista César Benjamin iniciou a palestra afirmando que o Brasil vive uma situação de perplexidade e crise. “Infelizmente,  a crise está apenas começando. Tenho refletido se não estamos vivendo outra década perdida de crescimento econômico”, disse o cientista político. Ele destacou que o governo Dilma adotou uma terapia conservadora na economia,  com recessão, um brutal corte de recursos públicos e juros altos. “Neste cenário, com corte de investimentos na saúde,  na educação, o governo transfere a renda dos diversos segmentos da população para ínfimas 20 mil famílias detentoras de títulos públicos, afirma.

Conforme o palestrante, esta condução da política econômica gera contração da capacidade de investimento e aumenta a vulnerabilidade externa do país. César Benjamin ainda destacou que o único setor a manter o crescimento no primeiro trimestre de 2015 foi o agronegócio. “Nos transformamos em uma sociedade com fraca vontade própria  e que não consegue canalizar sua energia para aquilo que realmente importa”, destacou.

“Anfitrião da atividade na capital gaúcha, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, salientou que não “há soluções milagrosas”, mas todos precisam dar sua contribuição para o futuro do Brasil. “Esse evento surge como um oásis, de maneira madura e reflexiva. Temos que ir às ruas, independente se somos situação ou oposição, empunhando as bandeiras corretas que apontem para um novo Brasil e para uma nova política”, defendeu. “Os partidos políticos, dentro do Estado Democrático de Direito, são fundamentais para mudar a triste realidade hoje imposta”, finalizou.

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Ex-senador e convidado especial da atividade, Pedro Simon defendeu a conscientização popular através do engajamento físico e virtual da população. “Eu, aos 85 anos, estou percorrendo o Brasil anonimamente. Tenho falado aos jovens, trabalhadores, estudantes, que precisamos fazer algo e rápido. Precisamos sair às ruas para falar nossas ideias, debater, discutir, analisar e formatar um novo projeto para o Brasil”, disse. Simon criticou também o chamado presidencialismo de coalisão, que segundo ele, é a prática utilizada pelo Palácio do Planalto para governar o país. “Nesse governo o ‘toma lá dá cá’ está institucionalizado. São distribuídos cargos conforme as votações na Câmara e no Senado. O Brasil, disparadamente, é o país mais corrupto do mundo. Aliás, se compararmos com o escândalo do Mensalão, o caso Collor seria tema para tribunal de pequenas causas”, ironizou. “A luta que nós todos, brasileiros, travamos pela democracia, não pode ser em vão”, finalizou.

O presidente do PSB/RS e vice-presidente nacional da sigla, Beto Albuquerque apresentou um diagnóstico da crise que tem, entre outras consequências, o baixo crescimento econômico e o retrocesso nas políticas sociais. “Durante a campanha o atual governo pintou um Brasil de ‘verde e amarelo’ que nunca existiu. Vivemos uma crise moral, mas também econômica, fiscal, hídrica e energética. O atual governo aplicou um ‘estelionato eleitoral’ na população brasileira”, apontou. Beto lembrou também a trajetórias de PSB, PPS e PV ligadas às bandeiras de esquerda, como a defesa da liberdade e da democracia. “Estamos unindo essas três forças progressistas para juntos encontrarmos soluções democráticas para o país”, completou, em referência as três siglas organizadoras do evento.

O representante da Fundação Astrogildo Pereira (PPS), João Batista Andrade, destacou as expectativas da população em encontrar uma força política capaz de liderar as mudanças que o Brasil tanto necessita, resgatando o crescimento econômico e social. “É uma responsabilidade muito grande diante do momento em que vivemos. Precisamos encontrar alternativas com união, debate e muita ação”, disse. “O país não tem mais tempo a perder”, salientou Osvander Valadão, conselheiro da Fundação Verde Herbert Daniel (PV).

A atividade que reuniu 300 lideranças, contou também com as presenças do prefeito de Eldorado do Sul, Sérgio Munhoz (PSB), da representante da Rede Sustentabilidade no RS, Sônia Bernardes, e dos secretários estaduais Miki Breier, do Trabalho; e Tarcísio Minetto, do desenvolvimento Rural.

Saúde, educação e infraestrutura como alternativas

Entre outros debatedores da noite, esteve a prefeita de Cristal, Fábia Richter (PSB). Profissional da área da saúde, ela defendeu maiores investimentos no setor. “A saúde é uma área transversal, tudo passa pela saúde, nada é mais fundamental do que ela”, destacou. “Não podemos jamais perder nossa capacidade de sonhar. Nosso desafio é planejar e executar uma ação que consiga trazer soluções e ajudem no crescimento e desenvolvimento do país”, disse ela, que integra a diretora da Famurs.

Qualquer política, para ter sucesso em sua execução, precisa de um olhar para a vida cotidiana das pessoas. A avaliação é da professora da Universidade Estadual do RS (Uergs), a socióloga Lúcia da Silva e Silva. “O Brasil precisa superar seus grandes obstáculos burocráticos”. Segunda a educadora, é fundamental, ainda, o engajamento da academia, dos intelectuais, dos agentes da educação no Brasil para legar um novo momento ao país. “A sociedade é fraca porque ela não é ouvida. Precisamos resgatar a visão centrada nas pessoas”.

Defensor da infraestrutura como estratégia para o desenvolvimento do país, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, abordou os principais desafios ligados ao setor primário: “O desenvolvimento e o crescimento do país passam pela agricultura. Nos últimos anos, excluindo-se 2004, 2005 e 2012, a agricultura foi fundamental para impulsionar e salvar o PIB do país”. Defendendo investimento em infraestrutura para o escoamento da produção, Joel também salientou a necessidade de investimentos dos poderes públicos na agricultura. “É claro que todas as áreas são fundamentais, mas a agricultura faz a economia girar e mata a fome de todo o planeta. Queremos um país forte, que ande na linha do desenvolvimento, com inclusão e democracia”, concluiu.

Fotos: Daniela Miranda – PSB/RS

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