Publicado 7 de julho de 2020 19:45. última modificação 8 de julho de 2020 16:45.

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Frentes progressistas analisadas em edição internacional do Pense Brasil

No último dia 6 de junho, o Pense Brasil Virtual trouxe um debate extremamente importante e muito discutido atualmente no Brasil, que são as experiências em relação a frentes políticas. Realizado ao vivo pelas redes sociais da Fundação João Mangabeira, a edição com convidados internacionais teve como tema “Experiências contemporâneas de frentes progressistas: as lições uruguaia e portuguesa”.

Os convidados para debater a questão foram o ex-prefeito de Montevidéu e ex-ministro da Educação do Uruguai, Ricardo Ehrlich, da Frente Ampla do Uruguai; o Deputado Hugo Pires, do Partido Socialista de Portugal; e Wagner Iglecias, Prof. Dr. da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e do Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina da USP.

O presidente da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho, foi o mediador do debate, e o iniciou explicando que há questões curiosas no Brasil, país com uma trajetória um pouco diferenciada e uma dificuldade em acertar as contas com sua própria história. Coutinho recordou que o Brasil saiu de uma ditadura de 21 anos em 1985 sem nunca a tratar como uma ditadura do ponto de vista institucional. Também destacou do surgimento de grandes manifestações em 2013, “com uma participação muito grande das mídias sociais – como se o país tivesse sido uma espécie de grande laboratório de manipulação de massas -, e que levou à deposição do governo da presidente Dilma Rousseff em 2016, sem que tenha havido nenhum crime de responsabilidade identificado. Coutinho lembrou que a Frente Ampla foi criada um pouco antes da ditadura no Uruguai, que foi implantada em 1973.

O ex-prefeito de Montevidéu e ex-ministro da Educação do Uruguai, Ricardo Ehrlich, contou que a Frente Ampla do Uruguai, que completará 50 anos em 2021, foi criada no fim do processo autoritário uruguaio nos anos 70 e foi uma resposta aos chamados ‘anos de chumbo’, que tiveram muita violência de Estado e recessão econômica. “Setores políticos muito diferentes ideologicamente se juntaram em uma confluência que se mantém até hoje. Os laços que permitiram que esse movimento político seguisse unido se deram por serem precedidos por uma atividade sindical muito atuante que criou uma central única de trabalhadores com uma instância popular muito forte”, explicou Ehrlich.


Hugo Pires, Deputado do Partido Socialista de Portugal, lembrou que a história do partido, que tem 47 anos, se confunde com a história de Portugal democrático. “Em 2014 o Partido Socialista iniciou um novo caminho na política portuguesa como resposta às políticas de austeridade da direita do país, que buscaram desmantelar o Estado e apostar numa economia com baixos salários e aumento de impostos. Quando o Partido Socialista e os outros partidos de esquerda obtiveram maioria no parlamento português e ampla governabilidade, a Geringonça surgiu para substituir a palavra ‘austeridade’ pela palavra ‘dignidade'”, conta o Deputado. “Conseguimos que essa Geringonça funcionasse, tivesse sucesso e conseguisse tirar Portugal do problema em que estava.  


O professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e do Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina da universidade, Wagner Iglecias, ressaltou que as duas experiências são muito importantes e muito interessantes para refletirmos sobre a formação de uma frente ampla, com a participação de diversos partidos do campo progressista no Brasil. “Tenho a impressão de que o principal motivo para o surgimento da frente uruguaia foi em grande parte político e da portuguesa, econômico. Com relação ao Brasil, a formação teria a ver com as duas coisas: com fatores políticos e econômicos, para recobrar a credibilidade de suas instituições e estruturar um projeto de desenvolvimento nacional que possa retomar o crescimento, a inclusão social e os níveis de emprego”.


Ao final do debate, Ricardo Ehrlich sinalizou que são grandes os desafios e é preciso que sejam mantidas fortes as esperanças. “As histórias dos países não são lineares, elas vão sendo construídas em momentos de avanços e retrocessos, e há uma poderosa reserva social e política em nossos países. Temos muito pela frente e acho muito importante que possamos fazer um caminho juntos, e nos apoiarmos mesmo distantes”, disse.


Já Hugo Pires declarou ter sido enriquecedora a partilha de experiências, que leva à percepção do que cada um dos partidos-irmãos constrói em seus países. Para ele, esse tipo de debate é muito engrandecedor e favorece a descoberta de alguns caminhos. “Os partidos políticos progressistas precisam continuar a ter um olhar crítico sobre as nossas rotinas, sobre a evolução das nossas sociedades, sobre as respostas que precisamos encontrar para os problemas das pessoas e sobre a eficácia da nossa capacidade de mostrar que as pessoas podem se sentir representadas por nós”, finalizou o deputado. 


Wagner Iglecias, por sua vez, destacou que as experiências dos dois países, que superaram ditaduras e vêm construindo ao longo das décadas regimes democráticos bastante sólidos, são altamente estimulantes. “Me parece que se nós viermos a construir uma frente ampla no Brasil, os exemplos de Portugal por um lado e do Uruguai por outro serão muito bem-vindos como inspirações para que esse objetivo seja alcançado”, avaliou Iglecias.
Ricardo Coutinho expressou a esperança de que consigamos encontrar os melhores caminhos para melhorar a nossa democracia, que passa por um processo de exaustão, conforme suas palavras. “É preciso recuperar a magia da democracia, a crença na doutrina democrática principalmente entre as amplas massas populares. E isso se faz com política. Não há outra forma de se fazer isso, senão pela política”, concluiu.

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