Publicado 12 de agosto de 2019 09:28. última modificação 12 de agosto de 2019 09:28.

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Economista defende papel indutor do Estado e critica mercado financeiro por “frear crescimento”

Foto: Humberto Pradera

O Estado tem que voltar a investir para direcionar o crescimento econômico e o desenvolvimento social do país, tarefa que, nas mãos da iniciativa privada, oferecerá risco aos interesses da população mais vulnerável.

É o que defende o economista Eduardo Moreira, formado pela Universidade da Califórnia de San Diego e autor do livro ‘O que os donos do poder não querem que você saiba’, lançado em 2017 pela editora Alaúde.

Ele foi o convidado desta terça-feira (6) do Café com Política, ciclo de palestras realizado pela Fundação João Mangabeira (FJM) sobre temas relevantes para o país. O encontro contou com a presença do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, do vice-presidente de relações Institucionais, Beto Albuquerque, do presidente da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho, do ex-governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e do prefeito do Recife, Geraldo Júlio.

Também participaram os líderes do PSB e da Oposição na Câmara, Tadeu Alencar (PE) e Alessandro Molon (RJ), respectivamente, além dos deputados Aliel Machado (PR) Bira do Pindaré (MA), Elias Vaz (GO), Gervásio Maia (PB) João Campos (PE), Lídice da Mata (BA), Luciano Ducci (PR) e Vilson da Fetaemg (MG).

Durante sua explanação, Eduardo Moreira explicou o funcionamento e as estruturas de poder que regem o mercado financeiro; contestou afirmações como: ‘sem a reforma da Previdência o país quebra’; ‘é necessário cortar gastos para que o país volte a crescer’; ‘o estado deve ser mínimo para o pleno desenvolvimento do país’; ‘o índice alto da bolsa de valores é algo positivo para a economia’; ‘o agronegócio é o setor que mais contribui para o crescimento’.

Moreira fez duras críticas ao mercado financeiro, que ele considera o “maior freio do crescimento econômico” do país. Os bancos, que ditam os rumos da política econômica, defendem o corte de gastos, porque “banqueiro não sabe gerar riqueza”, afirmou.

Os cortes atingem áreas como saúde e educação, o que deprime ainda mais a atividade econômica, e deixam os pobres mais pobres, à mercê de serviços públicos que não funcionam.

Para ele, o objetivo final do Estado tem sido pagar juros da dívida pública. “Ao definir que superávit primário são as receitas menos as despesas, excluindo os juros, está claro que o objetivo final do Estado é pagar juros da dívida pública. Mas onde é que está escrito isso? E por que o objetivo final é pagar juros? O objetivo do Estado então é pagar juros”, questiona.

“Eu não lembro de ter lido em nenhum lugar da Constituição que os juros da dívida são mais importantes do que a dívida social que o tem. Lembro de ter lido no artigo sexto que é dever do Estado dar moradia, segurança, saúde, educação, e lazer para todos os cidadãos brasileiros” disse.

“O cara do mercado financeiro vai dizer, mas a outra dívida tem prazo. Aí eu vou dizer, essa dívida também tem, e muita gente morreu por que ela não foi paga antes do prazo”, afirmou.

Eleito um dos três melhores economistas do país pela revista Investidor Institucional, Moreira falou sobre as maneiras pelas quais alguns privilegiados influenciam opiniões para manter a ordem vigente.

“Esse poder não é deles, eles não ganharam o voto de ninguém, mas eles acabam tendo esse poder, porque eles têm a capacidade de influir nas decisões políticas também que vem junto com todo esse poder acumulado”, afirmou.

Foto: Humberto Pradera

Segundo o World Record Report, o país é o mais desigual do mundo: o 1% mais rico recebe renda de quase 30% ao ano. Na Austrália, um país neoliberal, o 1% mais abastado acumula 7%; na Espanha, 9%; França, 8%; Suécia e Noruega, 8%.

As cinco pessoas mais ricas do Brasil somam o mesmo que os recursos de 100 milhões de pessoas. O vice-campeão mundial em ‘não ter’ meritocracia é o Brasil, que só perde para a Colômbia. Até um membro de uma família conseguir ganhar a renda média do país são necessárias nove gerações, ou seja, 225 anos.

Conforme o economista, 70% do que se torna um cidadão no Brasil é explicado pela condição econômica dos seus pais. “É o que eles chamam de chão e tetos pegajosos. Você nasce no chão e cola, não consegue sair”, explicou.

Para Moreira, o Estado brasileiro é uma ‘máquina de desigualdade’, de lavar dinheiro dos mais pobres para os mais ricos, um Robin Hood às avessas. “Você tem no Brasil a segunda maior incidência de todos os países estudados de impostos sobre consumo. A gente é um país que menos cobre impostos sobre renda”, afirmou.

“O rico ganha um dinheirão, gasta um pedacinho, ou seja, ele paga (de impostos) só um pedacinho, o resto todo que ele ganha, compra títulos da dívida, e estes títulos vão pagar juros, e os juros são bancados com o imposto que o pobre pagou”, afirmou.

Assista à integra da palestra:

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