Publicado 2 de junho de 2021 11:20. última modificação 2 de junho de 2021 11:31.

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Diálogo é melhor defesa contra fakes news, afirma Manuela d’Ávila

É preciso dialogar com quem pensa diferente porque o ódio e o medo caminham juntos. É o que defende Manuela d’Ávila, que participou do Clube do Livro do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e da Fundação João Mangabeira (FJM), nesta terça-feira (1º). A reunião do grupo, transmitida ao vivo pelas redes sociais do PSB, discutiu o livro “E se fosse você? Sobrevivendo às redes de ódio e fake news”, escrito por Manuela e chegou a ter mais de 170 pessoas simultaneamente online na plataforma Zoom.

“Por mais difícil que tenha sido escrever, o livro é um chamado para as pessoas se colocarem no lugar das outras. E saberem exatamente como fazem parte e são usadas por redes de desinformação”, conta a ex-deputada pelo PCdoB gaúcho.

Manuela é vítima frequente de notícias mentirosas distribuídas por redes estruturadas de desinformação que são, muitas vezes, levadas adiante por pessoas que não têm consciência do estrago que o compartilhamento desse tipo de informação faz na vida das vítimas dentro e, principalmente, fora das redes sociais.

Ataques rotineiros a Manuela

A ex-deputada sofre ameaças rotineiras fora das redes. Na última semana, a filha de Manuela, de apenas cinco anos, foi ameaçada de estupro. O endereço da casa onde mora com a família em Porto Alegre (RS) foi divulgado. Assim como foto da filha com uniforme escolar.

Nesta terça-feira (1º) ela também recebeu uma indenização por um processo que moveu contra um médico gaúcho por compartilhar informações falsas reiteradas vezes. O valor de R$ 15 mil foi revertido para a compra de cestas básicas.

“Faço isso como uma forma de educar as pessoas sobre o que estão fazendo”, disse referindo-se ao processo.

Ódio nas redes reflete preconceito real

“O livro trabalha com a ideia de que as redes de desinformação nunca caminham sozinhas, mas junto com as redes de ódio. O Brasil tem uma desigualdade brutal, estruturada a partir da discriminação racial e da desigualdade de gêneros. É uma sociedade estratificada de tal maneira que legitima variados preconceitos”, reflete.

Porém, Manuela lembra que o Brasil não está sozinho no enfrentamento dessas redes. Diversos países também sofrem com ataques do tipo, cada qual direcionado aos grupos que sofrem mais preconceito, como os muçulmanos na França, por exemplo.

“Ódio e medo estão entrelaçados. Hitler manipulava muito bem isso ao unir problemas econômicos com preconceito aos judeus. As fake news tiram (fatos) de contexto, editam, mudam o sentido, criando (notícias) de forma absolutamente fraudulenta com a intenção de mentir. A mentira certa é enviada para a pessoa certa. E essa é magia nefasta.”
Manuela d’Ávila

Manuela citou autores que embasaram seus estudos para o livro, como Pierre Bourdieu, que trabalhou com o conceito de violência simbólica.

Avanços com a Lei de Proteção de Dados

Manuela lembrou que o país demorou para proteger os dados da população. Aprovada em 2018, apenas em agosto do ano passado entrou em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados. O intuito é proteger os direitos fundamentais de liberdade e privacidade da população, além de regulamentar e punir o mau uso dessas informações.

Mas, assim como demorou para a aprovar a Lei de proteção dos dados, o país caminha a passos lentos para desarticular as redes de desinformação. “Tem pessoas que acham que a tecnologia criou o ódio. Nós vivemos numa sociedade marcada por isso. Também é verdade que a tecnologia entrega o ódio com uma capacidade que ninguém nunca conseguiu antes”, observa.

Esperança para vencer o ódio

O presidente do PSB, presente ao debate, avalia que as redes de ódio sempre estiveram presentes nos momentos mais críticos da história da humanidade.

“E esse ódio é propiciado pelo ressurgimento da extrema direita no mundo. É essencialmente um problema político ideológico que está nessas correntes de ódio. A extrema direita não flerta com a vida, mas com a morte. Temos que reagir com a mensagem da esperança, do amor, da liberdade, que é o que defendemos.”
Carlos Siqueira

Por isso, ele acredita que é necessário reagir em diversas frentes. A Autorreforma do PSB, por exemplo, discute o processo de não violência ativa. “Resistência e promoção de ideias que sejam benéficas para a sociedade”, explica Siqueira.

Leia também: Autorreforma em debate no 1º Encontro do Clube do Livro do PSB

Esperançoso, o socialista acredita que este momento crítico pelo qual passamos, assim como outros, vai passar. “Esta onda que estamos enfrentando também vai passar, mas pagamos preço alto. O principal é a unidade dessas forças que acreditam num outro tipo de convivência, de tolerância, de aceitar a diferença do outro. Admitindo a nossa fragilidade, vamos recuperar a nossa força”, prevê.

Resumo do momento

O presidente da Juventude Socialista Brasileira (JSB), Tony Sechi, destacou o aspecto simbólico do livro na crise sem precedentes que o país vive. “Momento em que a gente precisa se unir e cada vez mais dizer nas ruas do nosso país: fora Bolsonaro!”, resumiu o dirigente.

Autocrítica estrutural

A secretária nacional de Mulheres do PSB, Dora Pires, expôs as dificuldades de lidar internamente nos próprios partidos com a questão de gênero. Ela lembra a dificuldade que as mulheres enfrentam para ocupar seus lugares no espaço político – da resistência em lançar candidaturas femininas aos percalços para as elegerem. E, quando conseguem, para cumprirem seus mandatos.

“A questão das fake news, citando (Carlos) Siqueira, da não violência ativa, tem que ser espraiada no imaginário masculino porque a violência política de gênero é um fator de viabilidade de todo tipo de violência contra a mulher. Se os partidos são os veios transformadores da sociedade – e dentro deles estão violências contra as mulheres – é fácil do lado de fora sermos mais de 50% da população e sermos subjugadas.”
Dora Pires

Manuela acredita na mudança

Para ultrapassar o problema, Manuela d’Ávila defende o diálogo e a disposição para conversar com quem pensa diferente.

“Eles querem nos transformar em pessoas e instituições similares a eles. E nós também fazemos isso em todos os segmentos. Evidente que não temos que ter obrigação de ser pacientes. Mas toda vez que a gente não tem paciência (de dialogar), a gente deixa de mudar a sociedade. E eu não quero acreditar que as pessoas que distribuem coisas horrorosas tenham consciência do mal que causam à sociedade e à democracia.”
Manuela d’Ávila

Quem é Manuela

Manuela d’Ávila é jornalista. Foi a vereadora mais jovem de Porto Alegre (RS), eleita em 2004. Também foi eleita deputada federal em 2006 e reeleita em 2010. Ela se elegeu deputada estadual em 2014, e foi candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT) em 2018.
Clube do Livro

Importância do Clube do Livro

O dirigente da JSB, Tony Sechi, destaca a importância do Clube do Livro do PSB. Para ele, a iniciativa é uma grande oportunidade de estimular o hábito da leitura, gerar integração com a militância socialista e contato direto com as referências do partido e literatura política do país.

“O Clube do Livro é uma parceria da JSB Nacional e a Fundação João Mangabeira e tem por objetivo estimular o hábito da leitura, gerar interação e integração da militância, além do contato direto com as referências do partido e da literatura política do país. As inscrições ainda estão abertas, contamos com você para divulgação e propagação desta iniciativa. Disponibilizaremos certificados aos participantes e realizaremos muitos sorteios durante o ano.”
Tony Sechi

Os encontros do Clube do Livro são quinzenais. Na próxima semana será encaminhado o livro que baseará o próximo debate. Os interessados só precisam preencher o endereço de entrega na ficha de inscrição para receber a obra em casa e fazer a leitura antes do evento. O link da reunião também será encaminhado para quem se inscrever.

Confira a live na íntegra

Fonte: Socialismo Criativo

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