Publicado 16 de outubro de 2021 13:33. última modificação 16 de outubro de 2021 13:33.

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“Devemos parar de naturalizar o fenômeno da violência contra os negros” diz Elizeu Soares Lopes, ouvidor da polícia do Estado de São Paulo, em live da NSB-SP

Foi o primeiro debate de uma série de cinco, que serão realizados com diversos representantes da negritude, sempre em busca de diálogo e solução para o problema

Quem assistiu à live de quinta-feira (14) sobre violência contra a população negra, realizada pela Negritude Socialista Brasileira de São Paulo (NSB-SP), percebeu que as falas foram semelhantes, porém muito válidas sobre os recorrentes e alarmantes casos de perseguição e intolerância policial que estão diretamente ligados ao racismo estrutural, que segue sendo ignorado pelos governantes e não discutidos pela sociedade. Participaram do encontro Elizeu Soares Lopes, ouvidor da polícia de São Paulo; Dojival Vieira, advogado e jornalista, e Silvio Conceição Do Rosário, capitão da Polícia Militar da Bahia, com a mediação de Arlindo Felipe Junior, secretário geral da NSB-SP.

Dando início à live, Elizeu fez um contexto histórico sobre a violência contra os negros, desde a época da escravidão, passando pela pós-abolição e chegando aos dias atuais. “Devemos parar de naturalizar o fenômeno da violência contra os negros. As instituições precisam pensar em um modelo de polícia que não tenha o negro como o inimigo a ser combatido”.

Em outra parte de sua participação, confrontado com a pergunta no chat sobre o ‘modus operandi’ da polícia em bairros ricos e bairros pobres, Elizeu respondeu dizendo que sim, há diferença e que isso está ligado ao racismo estrutural existente dentro da Polícia Militar, mas que não tem como abordar tal assunto sem falar da negligência, também histórica, do Estado.

Já o capitão da Polícia Militar da Bahia, Silvio Conceição do Rosário, trouxe à discussão a violência cultural e também social sobre os negros. Para ele, não tem como discutir violência sem tocar em certos aspectos e nos motivos dessa violência e que também segurança pública não é a mesma coisa que policiamento. “A segurança pública é um sistema engendrado como um todo. Eu não posso pensar em segurança pública sem pensar em educação, em saúde, em equilíbrio alimentar, em lazer. Estamos falando sobre policiamento em vez de falar de segurança pública. Discutimos o efeito, mas não discutimos a causa”.

Para Dorival Vieira, a violência policial contra negros não é avulsa, ela é direcionada, seletiva e se dirige exatamente às camadas negras da população. “A taxa de letalidade de policiais contra negros, para cada cem mil habitantes, é de 2,8 vezes superior em comparação aos brancos. E, apesar de também pertencerem à parte excluída da população, os policiais incorporam a ideologia da violência estatal, imposta pelo estado brasileiro e que sempre existiu, retratando uma sociedade extremamente violenta construída sobre o escravismo”.

Encerrando a live, que trouxe temas tão importantes da história e dados atuais da realidade, que vemos noticiada sobre violência e racismo, os participantes deram suas opiniões sobre o que fariam para mudar a situação da polícia em relação ao excesso de violência.

Para Silvio Conceição, o assunto é muito amplo para ser resolvido com apenas uma ação, mas investiria em abrir ainda mais os canais de comunicação com a população e a sociedade, provendo a escuta comunitária principalmente em relação ao racismo.

Dorival Vieira é a favor da unificação da polícia, pois a militarização age de acordo com o estado construído na república herdada da escravidão. Ele lembrou que em nenhum outro país do mundo existe uma polícia assim, que age como se o cidadão fosse o inimigo.

Outros encontros estão sendo preparados pelo NSB-SP para o tema, trazendo mais personalidades e integrantes da sociedade para o debate de ideias e a busca de soluções.

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