Publicado 14 de outubro de 2021 15:18. última modificação 14 de outubro de 2021 15:30.

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Bolsas de ensino superior da Faculdade Miguel Arraes (FMA) dão a pessoas com deficiência oportunidade de ter um diploma

Falar em educação inclusiva no Brasil não é tarefa fácil. O país ainda precisa percorrer um longo caminho para que essa realidade chegue realmente às milhares de pessoas com deficiência espalhadas por todo território nacional, ainda mais quando estamos sob a gestão de um governo que quer excluir, e não incluir.

E os dados comprovam isso. Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que faz parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgado em agosto deste ano, o país possui cerca de 17,3 milhões de pessoas (8,4% do total da população) com pelo menos um tipo de limitação relacionada às suas funções. Os dados mostram, ainda, que 67,6% dessas pessoas não possuem instrução ou não concluíram o ensino fundamental e apenas 16% conseguiram terminar o ensino médio. E os dados sobre o ensino superior são ainda mais impactantes, apenas 5% das pessoas com deficiência concluíram o nível superior, enquanto os sem deficiência representam um número três vezes maior.

É nesse cenário que a Faculdade Miguel Arraes (FMA) surge, trazendo oportunidades e impactando vidas em poucos meses de funcionamento. Criada pela Fundação João Mangabeira (FJM), em parceria com a Unimes, está sendo credenciada pelo MEC, e inicialmente oferece 600 bolsas, beneficiando também as pessoas com deficiência, que já estão cursando Tecnologia em Gestão Pública no modelo Ensino A Distância (EAD) por todo o país. O EAD, inclusive, é um grande aliado da pessoa com deficiência porque proporciona a flexibilidade para estudar, trazendo mais comodidade.

Com Andre Ancelmo Araújo, de 37 anos, deficiente visual de São Paulo (SP), foi exatamente assim. Ele não pensou duas vezes ao ouvir o discurso de posse do Presidente da Fundação João Mangabeira, Márcio França, em que prometia não só criar a Faculdade Miguel Arraes, como dar bolsas de estudos para o curso de Gestão Pública. “Quando o Márcio, em seu pronunciamento de posse, afirmou que em sua gestão disponibilizaria 600 bolsas de graduação gratuitas, ali eu percebi que tinha uma luzinha no final do túnel e que eu poderia iniciar um novo ciclo em minha vida. Os dias se passaram, as coisas foram acontecendo e a FJM lançou as bolsas de estudo, eu corri e fiz minha inscrição e, graças a Deus, fiquei entre os selecionados”, relata animado. Para Andre, o ensino EAD é uma grande vantagem, já que pode estudar remotamente sem atrapalhar a rotina que ele e a esposa, também pessoa com deficiência, possuem.

Segundo o especialista em educação inclusiva e membro do PSB Inclusão, Pedro Lucas, a educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, está chegando nas universidades, por meio dos núcleos de acessibilidade e inclusão, porém, o maior desafio está na ainda fraca política de formação continuada de professores universitários. “Para mudar a realidade da inclusão no ensino superior, precisamos de profissionais da educação especial em caráter decisivo, e não somente em posição consultiva, possibilidades e gestão para que sejam criados percursos formativos que ofereçam várias formas de apresentar o currículo, de avaliar a compreensão do currículo e de formas de engajamento, bem como uma flexibilidade e diferenciação de percorrer o currículo. Em resumo, o caminho para a solução está na presença e protagonismo dos professores de educação especial dentro das universidades e faculdades”, explica Pedro.

Para Filipe de Mattos Assunção, 38, de Petrópolis (RJ), paraplégico que também cursa Gestão Pública pela FMA, a expectativa é que, com a formação, ele consiga ingressar na prefeitura do seu município, mais especificamente na Secretaria da Pessoa com Deficiência, e ter preparo para mudar a realidade dessas pessoas, melhorando, principalmente, a qualidade de vida. “Sou cadeirante por conta de um acidente de moto e o EAD é a melhor coisa, se fosse presencial eu não poderia fazer o curso por conta da falta de acessibilidade e da distância. Atualmente presido uma ONG e sei que o curso vai me abrir portas e melhorar, não só a minha vida, mas de todos que eu puder ajudar, seja na ONG ou em um cargo público”, almeja Filipe.

Outras barreiras ainda precisam ser vencidas e mais espaços conquistados, mas a Faculdade Miguel Arraes já sai na frente, proporcionando para as pessoas com deficiência a oportunidade da busca por seus sonhos e vendo na educação inclusiva o caminho certo para atender e compreender a necessidade de todos.

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